16/03/2004

Nós cá também temos pretos?


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Entre as mais imbecis ideias que têm surgido na política europeia, eu elegeria, até ao fim de semana em que Zapatero foi eleito 1º ministro de Espanha, a ideia de um comissário em estandardizar as dimensões dos preservativos por forma a que todos tivessem as mesmas dimensões em toda a Europa.

A nova mais imbecil posição no perímetro dos países da Comunidade Europeia, passou a ser a de Zapatero que defende a saída das tropas espanholas do Iraque a não ser que a soberania do país seja assumida pela ONU.

O homem não concorda ou discorda com uma coisa que ainda não aconteceu. Discorda de uma que já aconteceu. Se a coisa não tivesse acontecido, essa medida, que teria se ser a de não envio de tropas, poderia ser acertada ou não, mas seria tomada em função de previsões. Se se fizesse algo poderia ter consequências assim ou assado, no condicional.

Zapatero defende a saída das tropas que já estão no Iraque, ou seja, o desmanchar de algo cujas consequências é suposto já serem conhecidas. Neste caso supor-se-ia que a razão da decisão se destinava a remover consequências nefastas, fosse para quem fosse, nem que se destinasse simplesmente a evitar que pudessem morrer tropas espanholas. Dir-se-ia que se estava perante uma posição de defesa do interesse próprio descorando o interesse (mesmo que eventual) dos Iraquianos. Mas, assumida, perceber-se-ia que Zapatero estaria a defender qualquer coisa de concreto.

Suponhamos que a ONU consegue decidir no sentido de assumir (temporariamente) a soberania do Iraque. Segundo Zapatero as tropas espanholas ficariam no Iraque mesmo que pelas mais diabólicas e inconfessáveis. Zapatero retirará as tropas se a ONU não assumir a soberania, mesmo que não possa negar a bondade na sua continuação em campo.

Suponhamos que Zapatero tem um irmão. O que ele está a decidir tem paralelo no cenário em que, estando a ajudar um irmão para evitar que ele passasse fome, Zapatero, descobrindo que o bilhete de identidade do irmão estaria desactualizado, lhe daria um prazo até que o pusesse em ordem sob pena de lhe retirar a ajuda. Por um problema de secretaria, ou burocrático, ele não ajudaria. Não lhe interessaria, por exemplo, que o irmão estivesse em convalescença de uma intervenção cirúrgica. Interessar-lhe-ia somente saber que estava a ajudar um fora-da-lei.

É provável que Zapatero reflicta a opinião da maioria dos espanhóis. Mas isso não torna correcta a decisão. Torna simplesmente comum o disparate.

Prevejo que Zapatero vai ser o bobo da festa. Sendo hoje óbvio que Alemães e Franceses já não levantam obstáculos às operações militares no Iraque, mesmo simulando, perante a sua opinião pública, o contrário, prevejo o enorme esforço que Schroeder o Chirac, os anteriores "Zapateros" da Europa, terão que despender, em convencer o espanhol a mudar de ideias. Ou alternativamente a apoiar aquilo que os americanos propuseram, e eles recusaram, na ONU.

Enquanto escrevo estas linhas oiço na rádio a notícia de que uma sondagem segundo a qual a maioria dos iraquianos acha viver melhor e ter melhores perspectivas de futuro neste momento que antes da invasão.

Dou pouco valor a sondagens e acho que há chamar os bois pelos nomes quando se ache que a maioria está errada. Mas Zapatero parece achar o contrário, que há que dar toda a razão à opinião da maioria, pelo que prevejo tempos "divertidos" …

A propósito de divertimento, registo a nova opinião de todos aqueles que, até à pouco achavam que os serviços secretos e a tropa "não serviam para nada". Agora todos acham que é imprescindível "repensar a segurança".

Se todos os que, neste momento, estão a "manobrar", fossem demitidos ou, tendo alguma vergonha na cara, se demitissem, a esquerda voltaria a ter que gritar de pé em bancos de cozinha. Não se trata de estar contra a esquerda. Trata-se de estar contra a incompetência e a estupidez grassante na esquerda.

A razão profunda por que tudo isto acontece, está na adesão dos dirigentes da esquerda às estratégias de marketing. Paralelamente ao slogan "seremos felizes se usarmos o champô X", "seremos felizes se estivermos contra a guerra" é um slogan simpático, mesmo que alguém nos esteja já guerreando. A não ser que se ache que, na hora da verdade, o atacante vai distinguir quem é pacifista ou não. Mas parece-me que alguns passageiros dos comboios espanhóis, de esquerda ou não, achariam hoje o contrário.

Evidentemente que sei que a opinião pública, sendo devidamente catalisada, apoiará amanhã o lançamento de armas nucleares como apoia hoje a retirada do Iraque. A minha preocupação reside exactamente aí. Os dirigentes da esquerda europeia tendem a papaguear aquilo que a maioria das suas tropas quer ouvir, portanto os cogumelos surgirão rapidamente. A não ser que seja mais uma outra faceta das estratégias de marketing: mentir até chegar ao poder, para depois "dar a volta". Aliás o anterior camarada de Zapatero fez exactamente isso. Defendeu a saída de Espanha da Nato (apoiando as aspirações da maioria que o veio a eleger) para depois, novamente por maioria, vir defender e ganhar, em referendo, exactamente o contrário.

Acho que a Europa e a maioria do seu povo andou muito tempo a curtir as anedotas do Bush. Perdeu muito tempo até perceber que por detrás do anedótico havia algo que o tempo se encarregaria de provar verdadeiro. Ou então não se percebe bem as medidas de segurança que franceses e alemães estão a implementar e a presença dos seus dirigentes nos funerais de Madrid.

Mas em matéria de anedotas Zapatero conseguiu arrumar a pergunta que Bush fez a Lula: "Vocês lá também têm pretos?"

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