30/09/2005

Mais um piquenique

Aqui estes artistas voltaram aos piqueniques.

Só foi pena de não se terem lembrado de colocar um cartazito reclamando o fim das centenas de ataques suicidas contra a população iraquiana (mulheres crianças, desempregados, etc) que, segundo os piqueniqueiros, matam centenas de cada vez (por culpa dos unilateralistas das terras do tio Sam, pois claro).

... a não ser que achem a coisa justificável ... (deve ser só impressão minha).

Serão os mesmos que abalaram para o Iraque, antes da invasão, como escudos humanos?

Já percebi, foi, nessa altura, um excesso de altruísmo. Foram para lá cedo demais, e agora, no momento em que mais falta lá fazem é quando, justamente, o vil combustível está mais caro.
Ora abóbora.
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O valor da vida em função da origem da bala

[mais um que veio a pé]

Caiu o Carmo e a trindade quando a polícia Londrina matou um imigrante brasileiro.

Não discuto os pormenores que envolveram a coisa, dou de barato que, no meio da confusão, tenham perdido o controlo e tenham morto um absoluto inocente.

Os multilateralistas de serviço armaram um caldinho de todo o tamanho, pedindo, a torto e a direito, explicações aos ingleses (unilateralistas) acerca da história.

Os responsáveis políticos ingleses lá tiveram que pedir desculpa milhentas vezes, os embaixadores andaram numa fona, foram exigidas (e pagas) indemnizações, etc. Enfim: cobras e lagartos.

Só uma coisa não foi esclarecida: que explicações dá o estado brasileiro e que indemnizações entrega aos familiares das pessoas mortas em circunstâncias idênticas ou por simples fuzilamento, quando a coisa se passa dentro de portas?

Há dois pesos e duas medidas? O cidadão brasileiro só tem direito à vida fora de fronteiras?

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Candidatos independentes merecem mais confiança

Em relação à boa mão cheia de candidatos independentes à presidência das Câmaras Municipais que estão a contas com a justiça, há uma perspectiva que não recordo ter visto abordada.

Parece ponto assente de que a generalidade da população portuguesa está convencida que a corrupção generalizada nas câmaras municipais existe, e com intuitos de financiar partidos políticos, carreiras políticas e equipes de futebol (actividade de que já ouvi falar e que alguns defendem tratar-se de um desporto).

Não faltam aliás acusações vindas exactamente de dentro do meio autárquico.

Suponho que este convencimento pode implicar duas outras possibilidades:

1 – Que os casos que foram parar à justiça resultaram da catrafilagem dos candidatos (outrora presidentes de câmara) pelos próprios correligionários, por não verem fluir a quantidade de bens que acham apropriados em proveito dos respectivos partidos e/ou deles próprios.

2 – Que a denúncia destes casos por adversários políticos se deve somente ao apetite que os mesmos recursos lhes provocam.

Partindo destes pressupostos, parece-me razoável que a população conclua que há que apoiar exactamente aqueles que cortaram amarras aos partidos políticos. Estando quebrado o canal de drenagem de bens, estão finalmente criadas as condições para um exercício mais saudável do poder autárquico. De acusados passam a heróis.

O inexplicável e rocambolesco comportamento do sistema de justiça (demora nas investigações, fugas de informação sobre os resultados das investigações, demora em ser deduzida uma acusação, fugas de informação em relação às decisões de juizes, sentenças contraditórias, julgamentos para as calendas gregas, milhentos adiamentos) parece tornar ainda mais verosímil todo este cenário.

Lembremo-nos do julgamento do General Garcia dos Santos por causa da JAE: levantou a lebre, foi condenado.

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O vetusto monárquico


[Este artigo vem atrasado, mas não podia deixar de aqui saltitar.]

Mário Soares candidato à Presidência da República ...

Será que ele não escutou as palavras do antigo Presidente da Assembleia da República, Almeida Santos? Dizia ele: “Na minha idade, sabe-se como se está hoje, mas não se sabe como se estará amanhã”.

Evidentemente que isso se pode dizer de qualquer um, mas não é difícil perceber que aos 80 anos é mais verdade do que nunca. E quanto à ainda intocada sagacidade ... a decisão não é mais que uma prova do seu mau estado.

Só vejo uma possibilidade: Sócrates está a fazer os possíveis para retirar do caminho a linhagem monárquica Soares. Esperemos que não fique um espinho em Sintra.

Todos devemos algo a Soares. Para preservar essa memória há que evitar que ele volte a ocupar o palácio de Belém. Temos que passar à etapa seguinte, não à anterior.

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29/09/2005

O preto e branco, a poesia e a fome.

A propósito deste excelente artigo, resolvi ranger um bocado.

[revisto]

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Quando é que a esquerda resolve reclamar o fim do proteccionismo à agricultura europeia?

As ajuda económica (dinheiro) a uma vaca europeia é superior ao que um pobre, do terceiro mundo, tem para viver.

Embora isto embarateça os produtos agrícolas ao consumidor final (à custa de impostos, evidentemente), não é mesmo assim suficiente para competir com o preço das eventuais exportações de países do terceiro mundo. Portanto, para aplacar essa possibilidade, há que aplicar taxas alfandegárias à entrada de víveres daqueles com quem os Live Aids dizem preocupar-se.

Os Live Aids não são, portanto, mais que um processo de tranquilização das próprias consciências invocando os maus da fita do costume - governos capitalistas, unilateralistas, etc, etc.

Nenhum governo europeu se atreve a defender o levantamento puro e simples do proteccionismo porque sabe que isso significará desemprego, abandono dos campos, etc, enfim, a eventualidade de se verem avançar campos de golfe.

Tudo se resume, portanto, a um dilema: ou comemos nós (os europeus) ou come o terceiro mundo.

Claro que pode haver nuances: percentagens de importação, etc. Mas disso a esquerda não gosta. Isso é navegar no cinzento. O preto e branco (como nos filmes) é mais poético. Poesia e fome (a dos outros) andam, pelas nossas paragens, de mãos dadas.

Nesta matéria, como noutras, a esquerda, que se parece cada vez mais com uma lagarta anafada (escolhi lagarta por similitude de inteligência), prefere alienar, à direita, suficiente campo de manobra para que seja esta a reivindicar a defesa dos pobres. Perante o facto consumado, e para a contrariar, a esquerda coloca-se rapidamente ao lado da extrema direita – proteccionismo, proteccionismo, proteccionismo, abaixo a globalização.

Surgem alguns com uma ideia ainda mais peregrina: alinhar com a globalização para, estando lá dentro, poderem controlá-la, leia-se “canalizar recursos para a Europa à custa do resto do mundo”. Mas os países (e empresas) que já estão (globalmente instalados) têm sistema nervoso central desenvolvido e não cairão na esparrela.

Voltando à poesia, que diria a isto Manuel Alegre?

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27/09/2005

Lobis e penhoras

A propósito de lobis e mais lobis, de dinheiro mal gasto e da incompetência generalizada que grassa pelo funcionalismo público, já alguém se apercebeu de que muitas Câmaras Municipais têm dívidas de tal maneira altas à Portugal Telecom que ficam sem possibilidade de renegociar contractos ou procurar fornecedor alternativo por forma a poderem ter melhores preços de chamadas telefónicas (telecomunicações em geral)?

Nem procuram alternativa porque sabem que a PT lhes cortaria de imediato os telefones invocando a dívida … que as Câmaras não estão, evidentemente, em posição para liquidar …

E a farra vai continuando. À custa de todos, a PT cobra preços exorbitantes, usando como penhora, a dívida que as Câmaras lhe vão fazendo o jeito de manter.

João Cordeiro e a PIDE



Em relação ao debate de ontem na RTP1, programa Prós e Contras, só me ocorre lembrar um programa que recordo ter visto enquanto criança no programa Zip Zip (fim dos anos 60).

Nessa altura Fialho Gouveia entrevistava um prestamista proprietário (casa de penhores).

Alguém da produção do programa tinha levado ao balcão da casa de penhores do entrevistado, para penhorar, um gravador de som novinho em folha. O estabelecimento avaliou o equipamento numa ninharia e foi esse o valor entregue ao pretenso dono do equipamento.

Fotocopiado o documento comprovativo da penhora, o equipamento é resgatado no dia seguinte.

Durante o programa, em directo, Fialho Gouveia pergunta ao prestamista o porquê de serem atribuídos, nas casas de penhores, valores tão baixos aos objectos penhorados. O prestamista contraria Fialho Gouveia dizendo que isso não é verdade e que, imbuído da noção que tem de estar a prestar um bom serviço à sociedade, avalia sempre os objectos por valores muito próximos do seu valor real.

Fialho Gouveia convida-o então a avaliar o mesmíssimo gravador anteriormente avaliado pela casa de penhores de que o entrevistado é proprietário. O homem avalia o equipamento por um valor aproximadamente 10x superior ao oferecido ao balcão do seu estabelecimento.

Revelada ao prestamista a fotocópia do documento obtida anteriormente ao balcão, o convidado, sentindo-se encurralado, não se coíbe de ameaçar, em directo, Fialho Gouveia (e o programa), invocando “o conhecimento de pessoas importantes” supõe-se que, directamente ou indirectamente da PIDE/DGS.

O representante da Associação Nacional de Farmácias, na pessoa de João Cordeiro, fez-me lembrar ontem o prestamista.

Como é que o homem se atreveu a ameaçar o ministro e o estado?

A cena foi tão surreal que tive por momentos a nítida impressão de ver entrar um inspector da PIDE e seus capangas para abafar o impertinente ministro comunista (qualidade que João Cordeiro não se coibiu de insinuar).

… eles andam aí …


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26/09/2005

Segurança Social - 1 ano de atrazo

Venho aqui de passagem para perguntar se alguém percebe porque está a ser processada, com mais de 1 ano de atraso, a documentação entregue pelas empresas na Segurança Social?

Há uns tempos comprei um carro (em segunda mão, claro). O carro tinha sido matriculado no registo automóvel do Porto, portanto, demorei mais de 1 ano a receber o novo registo de propriedade.

Já que anda por ai uma febre de expor tudo na Internet, talvez fosse de também lá colocar o nome dos responsáveis, incluindo os trabalhadores, de todas as secções do estado que têm trabalho em atraso, e, já agora, a percentagem de dias em que cada um deles não compareceram ao trabalho, quer por motivos justificados quer injustificados.

… entretanto, continuo sem linha telefónica. A empresa de telecomunicações em causa explicou-me, a semana passada, que o atraso se devia … a falta de impressos …

15/09/2005

... ainda estrebucho

Embora ganas me não faltem, só dentro de um mês devo poder voltar a publicar regularmente (a linha telefónica nunca mais é instalada).

Desculpem.

RoD