06/04/2008

A esquerda estúpida, a autoridade e o poder

A esquerda estúpida dificilmente convive com a palavra autoridade. Para esta esquerda (e em parte para a restante), autoridade é uma coisa que apenas e sempre se conquista pela luta em defesa de “causas superiores”(de esquerda). Evidentemente que se as causas não forem de esquerda, o indígena bem se pode esfalfar que nunca haverá causa nem autoridade.

Poder é coisa blasfema. Coisa de unilateralista, coisa que cheira a enxofre.

Para a esquerda, a autoridade é uma coisa que “tem que ser permanentemente posta em causa”. Parece tratar-se do velho discurso de desafio ao poder. Parece mas não é.

Se a autoridade for de esquerda, basta o passa-palavra entre irmãos de sangue e a autoridade estará, naturalmente, isenta de ser testada. Se a autoridade não for de esquerda o desafio à idoneidade da autoridade serve apenas como chavão para a condenação daquele que está à partida queimado.

Poder é coisa que a esquerda diz renegar mesmo quando o tem e exerce impiedosamente, e que imputa sistematicamente, como nuvem negra, fascista, não só a quem o exerce às claras mas mesmo a quem, não sendo de esquerda o não pretenda exercer.

Entre iguais, a autoridade pode ser exercida sem recurso a poder desde que seja naturalmente aceite. Se não for naturalmente aceite, a coisa turva-se.

Na escola, por muito que a esquerda estúpida insista, professor e alunos não são iguais e a autoridade não pode frequentemente ser exercida sem recurso a poder.

Claro que a esquerda se está nas tintas para a realidade, porque lhe basta o que vai na cabeça dela. Em último caso, se o bicho homem não se lhe adaptar a culpa é dele, ficando ao alcance de um poder infinito que já dizimou milhões de pessoas.

A esquerda, paulatinamente acompanhada por uma direita envergonhada, tem vindo a retirar ao professor não só poder como mesmo autoridade. Começou por retirar ao professor, directamente ou por via de labirínticas burocracias, o poder que lhe permitia manter as hostes suficientemente sossegadas para que pudessem ouvir, participar disciplinadamente e aprender. Depois inventou a aberração “escola democrática” que coloca professor e aluno ao mesmo nível. Em resultado, o poder, dentro da sala de aula e, por arrastamento, em toda a escola, caiu à rua.

O poder caiu à rua e a esquerda rejubilou. Estava para sempre afastada a ferramenta opressiva da besta fascista.

O problema é que quando o poder cai à rua pode ser apanhado por qualquer um. Pode demorar mais ou menos tempo, mas acabará por ser apanhado e exercido por alguém.

De mãos atadas em novelos ideológicos cujos nós foram sendo convenientemente desenhados por sindicatos a preceito, os professores, mesmo nos poucos casos em que a aceitação da democracia na sala de aula foi rejeitada, foram incapazes de levantar um dedo.

Caído à rua, o poder não ficou órfão. Inicialmente, indiferentes aos ideais da esquerda estúpida, os alunos foram abocanhando, cada um para seu lado, o bocadinho que achavam que tinham direito. Posteriormente foram-se formando gangs, alguns de rebentos militantes em causas da esquerda estúpida.

O Ministério da “Educação” não se alarmou. Tratava-se apenas de criativas formas de interacção enquadradas informalmente. O solipsismo é meta estável e, portanto, as tribos são coisas giras, informais.

Os chefes tribais, de pendor evidentemente caudilhista, estabelecem-se e controlam o território. A escola está por conta deles. Em miríades de pequenos grupos substancialmente guerreiros (também entre eles) controlam as salas de aula, por vezes a 2 ou 3 por turma. Pouco a pouco vão conquistando território a outros grupos e “interactivando” com estruturas de idêntico pendor fora da escola, vão estendendo os tentáculos a outras escolas.

Estamos portanto perante um cenário em que dentro da escola há nichos de poder de todos os tipos e para todos os gostos, nenhum deles exercido por quem de direito: o professor.

Perante a hecatombe, eis como o sistema se prepara para se subalternizar face aos novos e radiosos poderes:




A nova onda possa por se subalternizar o professor e a escola face a gangs. O que está a dar é conquistar gangs para se poder dar aulas. O gang já nada tem a conquistar, já tem poder e, por arrastamento, autoridade. O caudilho do gang manda, escudado pelo resto da tribo ou, se se quiser, por uma "informal" tropa de choque.

Enfim, uma escola fascista como nunca terá passado pela cabeça a Salazar.

Viva a esquerda.

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Turmas de gangs

Acabei de ver o Prós e Contras de 2ª feira passada.

Se tiver tempo, sou capaz de verter aqui uns clipzitos de algumas passagens, umas acertadas outras hilariantes.

Deste último grupo vem-me à memória a declaração de um psicólogo, segundo a qual cada professor deve negociar com os chefes de gang que houver em cada turma, não só o indispensável sossego como também a possibilidade de chegar aos subordinados do caudilho.

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1€

Esta manhã, suponho que na Antena 1, um idiota cascava num supermercado por ter movido um processo a uma velhota na sequência dela ter, hipoteticamente, roubado um creme no valor de 1€.

O argumentista reclamava que a velhota era velhota, que o valor do creme era apenas de 1€, que o supermercado teria gasto uma fortuna em advogados e que o Estado teria gasto um batatal de massa em geringônciais manobras de tribunal.

O trambolho argumentou isto tudo mas esqueceu-se de dizer que pensaria ele dever fazer-se perante a percepção generalizada de que o supermercado nunca levantaria processos para roubos inferiores a 1€.

Dever-se-ia retirar do supermercado tudo o que custasse menos de 1€? Dever-se-ia deixar roubar tudo o que custasse menos de 1€?

E porquê 1€? Porque não 5, 10, 100, 1000? Dever-se-ia apenas levantar processos nos casos em que o roubo fosse superior ao somatório de todos os custos judiciais?

De acordo com o pensamento do artista deveria ser esta última a via a seguir, muito embora não se tenha percebido quantos seriam, na cabeça do palermoide, os artigos de supermercado que ultrapassam 1000€ ou se ele defenderia a retirada de todos o artigos de valor inferior.

Enfim, coisas giras, coisas caviar, coisas ao nível de inteligência Neandertal (não desfazendo).

A propósito: qual o preço do kaviar?

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Aguentem-se à bronca

Anda por aí aos trambolhões a acusação de que a RTP privilegia o governo em detrimento da oposição.

Mas qual governo e qual oposição? Porquê a dicotomia? Que tem o governo a ver com a oposição?

O governo tem uma legitimidade própria e não há organismo alternativo.

A oposição é oposição ao partido que suporta o governo. O partido que suporta o governo tem oposição. Aliás, todos os partidos são oposição uns aos outros.

O governo deve ter tempo informativo de acordo com o que se achar apropriado e ponto final.

A oposição é oposição por não ter legitimidade para ser governo. Não tem legitimidade para ser governo e não tem peso específico para ser colocada ao mesmo nível.

Que a RTP privilegie o PS em detrimento da oposição poderá (ou não) ser coisa que mereça análise, mas, cada macaco no seu galho.

O Bloco de Esquerda tem muitíssimo mais tempo do que merece em função do seu peso eleitoral. Porque carga de água se tem que aturar uma lavagem ao cérebro de meia dúzia de marmelos em pé de igualdade com um partido que é suportado por muito mais gente?

Eu percebo que a coisa não deve apenas ser proporcional. Mas colocar nos pratos da mesma balança o governo e a oposição?

Rebéubéu que o PS se mistura com o governo. Mistura? Se fulano for membro do governo em funções governamentais é governo. Se não for o caso, é partido.

O governo (este ou outro qualquer) tem legitimidade própria e deve fazer chegar a sua mensagem aos portugueses. Os partidos, da oposição ou não, devem ter o mesmo direito, mas equitativo entre partidos, sem misturas, porque o governo é o governo.

Manifestação por autoridade

Miguel Júdice, RDP1, Conselho Superior, 24 de Março de 2008, acerca dos bezerros e das manifestações.

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Manifestação a 2 taxis

No Abrupto pode ver-se esta piramidal foto (RM):


[clicar a imagem para ver melhor]

Não há duvida: à flamejante causa, as massas aderem a magotes.

Nota: estão todos encasacados por causa do aquecimento global.

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Mediação em porradaria

De chorar a rir:
"As escolas com problemas graves de indisciplina podem apresentar ao Ministério da Educação uma proposta para a contratação de técnicos como psicólogos e mediadores de conflitos, anunciou hoje o secretário de Estado da Educação."
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Adenda:

Recomendo vivamente uma visita ao blog As Minhas Leituras.

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O Canivete

Este link, no Insurgente, lembrou-me que talvez até ao 4º ano (8º de hoje) andei sempre com um canivete no bolso.

Porque carga de água, perguntarão alguns. Porque, no campo (província), o canivete era uma ferramenta.

Andava com ele no bolso e não o trazia escondido. Estava colocado no porta chaves e usava-o nas aulas, por exemplo, para afiar lápis.

O canivete foi-se tornando maior à medida que fui crescendo e nem assim houve alarme.

A medida do retrocesso em insegurança é patente no alarme dado sempre que se detecta um aluno com um canivete.

Nos anos 60, um canivete era uma ferramenta e outra coisa não passava pela cabeça de nenhum de nós. Andei à porrada com muitos colegas, mas nunca puxei o canivete. Aliás, nunca um me foi puxado.

Com a "aceitação da diversidade" deixou de ser observada uma regra, não escrita, mas clara para todos: um canivete era uma ferramenta. Deixou de se usar canivete porque passou a aceitar-se que um canivete poderia não ser apenas uma ferramenta.

Os canivetes quase desapareceram, mas os que se usam têm uma utilização mais 'diversa'.

Também se brincava com pistolas de plástico, algumas em antimónio(?) sem que algum mal viesse ao mundo. Brincar com pistolas passou a ser coisa "feia" e as verdadeiras perigo real.

Rio de Mouro, onde passei alguns anos, era um local por onde se podia deambular a qualquer hora do dia ou de noite, sozinho ou com outras crianças, rapazes ou raparigas. Não me refiro à zona urbana propriamente dita. Aliás, a zona urbana era muitíssimo mais pequena. Falo em andar pelas matas da Rinchoa, pelo eucaliptal onde está hoje o acesso à IC-19. Mercês, Rio-de-Mouro velho, Mem Martins, eram locais que corríamos sem que alguma vez tivesse sentido ou me tivessem feito sentir qualquer problema de segurança. O único perigo que me apontavam, à altura, era o de me perder ou de encontrar algum cão perigoso (o que me obrigava a andar com um pau).

Na linha de Sintra, hoje, só de dia e acompanhado poderia andar. Brincar no mato?

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Como se lhes faz a folha



Parece que anda toda a gente à procura disto ou, se calhar, não procura porque desconhece a sua existência.

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