08/05/2007

Querem apocalipsar-se

No blog O Triunfo dos Porcos, um comentário de o-lidador merece meditação (não transcendental :-) ).

[Portanto o Irão tem que saber que delete Israel implica delete Irão, e ficamos no equilíbrio do terror]

Reside aí o erro de análise.

Como cantava Sting, "the russians love their children too". Por isso o equilíbrio do terror funcionou mais ou menos, embora seja perigoso porque assenta na teoria dos jogos e, mais prosaicamente, no velho jogo que a rapaziada chama "chicken", isto é, em rota de colisão a ver quem é o último a pestanejar.

Com os aiatolas a história é outra.

Há uns meses, em artigo publicado no Wall Street Journal, Bernard Lewis,(BL) professor em Princeton e especialista em assuntos do Médio Oriente, manifestava a opinião de que o Irão se tem vindo a preparar para um apocalíptico fim dos tempos .
Os xiitas acreditam na vinda do 12º imam, o Mhadi, e Amadinejah não só acredita, como acha que lhe compete a ele ajudar a preparar o caminho, e que foi essa a vontade divina que o levou ao poder.

Acredita de tal modo que, em 2004, quando era autarca de Teerão, mandou construir uma avenida para dar as boas vindas ao Mhadi e financiou com vários milhões de dólares uma mesquita (Jamkaran) dedicada a preparar essa vinda.

Em Setembro de 2005, em plena Assembleia da ONU, acabou o discurso com uma oração apelando à vinda do Mhadi e dias depois declarou à imprensa que durante o discurso se tinha sentido envolvido por uma aura divina e que os representantes internacionais que o ouviam tinham ficado rendidos às suas palavras e à aura que projectava, incapazes sequer de pestanejar.

Temos portanto um homem em missão divina e que acredita que o caminho do Mhadi só estará preparado com a “libertação” de Jerusalém e a erradicação de todos os infiéis do Dar Al Islam.

A coisa é séria, porque não se trata de mera retórica, Amadinejah acredita mesmo naquilo que diz.

E ele não é um tipo qualquer. É o presidente de um país que fabrica centenas de mísseis de longo alcance por ano, que se prepara afincadamente para obter armas nucleares e que equipa, arma, treina e manipula organizações terroristas que partilham os mesmos objectivos.

As crenças são coisas poderosas.

BL referia ainda que, para alguém como Amadinejah, a dissuasão assente na estratégia da destruição mútua assegurada, não funciona, porque para ele a vitória não está nunca em dúvida.

Morrerão muitos “sionistas”, o que é um serviço a Alá, e milhões de “verdadeiros crentes” …mas estes serão “mártires”, terão morrido no caminho de Alá e por isso ganharão.

E então virá o Mhadi, aterrando provavelmente na avenida que Amadinejah lhe preparou. Depois de uma reunião com os aiatolas, irá de imediato para o terreno, para comandar as tropas dos fiéis ao assalto do Dar Al Harb (o mundo da guerra….nós).

Tudo isto nos parece risível e improvável, mas a verdade é que a malta também não levou muito a sério as enormidades ditas por Hitler, Estaline, Mão e Pol-Pot, e ainda hoje há muita gente que não acredita nos campos da morte, nos gulags e nos laogai…
Talvez devêssemos ouvir Amadinejah sem cair na tentação de tresler aquilo que ele efectivamente diz.
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