Vi hoje (acabou já depois da meia-noite), parcialmente, o debate Prós e Contras, transmitido na RTP1. Não o vi de princípio e não pude ver na totalidade, por razões pessoais, a parte restante.
De qualquer forma aqui ficam algumas notas.
A idade de Mário Soares já se começa a fazer notar, relembrando-nos quão definitiva é uma das muitas impiedosas leis da natureza.
A determinada altura um dos convidados argumenta que determinada classificação atribuída a George Bush (já me não recordo qual) não passava de uma caricatura. Mário soares responde que “está bem, será uma caricatura, mas os meios de comunicação social europeus estão cheios dela”. Depreendi que Mário Soares ache normal que os meios de comunicação social europeus se “encham” de George Bush em versão caricatura e depreendi ainda que ele achava razoável que a conversa nesses meios de comunicação girsse à volta da dita caricatura como se de uma caricatura se não tratasse.
Foi curioso o silêncio resultante da afirmação de um convidado quando disse que, contrariamente à acusação inicial de que a invasão do Iraque pelos norte-americanos se destinava “a deitar as mãos ao petróleo”, o tempo tivesse vindo a mostrar que quem tem estado a deitar as mãos ao líquido têm sido empresas petrolíferas europeias, nomeadamente italianas, espanholas e anglo-holandesas (esta última se bem percebi). Esta afirmação vem confirmar as minhas anteriores expectativas. A Comunidade Europeia está silenciosa porque tem o seu quinhão – neste caso a totalidade das exportações iraquianas. Zapatero retirou as tropas mas não as empresas (abandonou o custo e ficou com o lucro). Os pacifismos europeus estão pacificados, talvez anestesiados pelos vapores voláteis do ouro negro.
Várias desgraças foram anunciadas no que tocava ao desempenho dos Estados Unidos em relação à balança de pagamentos, crescimento económico, desemprego, inovação em tecnologias, etc, e todos os convidados confirmaram que os Estados Unidos têm vindo, face à Europa, a recuar nestes factores. Mas também todos estiveram de acordo que, em relação aos mesmos factores a Comunidade Europeia está ainda muito atrás dos Estados Unidos.
Em relação às ditaduras que castigam os estados árabes, é curioso que a maioria dos convidados tenham estado de acordo que esse factor nefasto possa ser atenuado em direcção a valores democráticos por via de acordos de desenvolvimento, combate à pobreza, etc, mas não sintam como bizarro o facto de ser necessário por um lado ajudar os países de mais ricos recursos no mundo e pelo outro possível alcançá-lo debaixo de regimes autoritários sem se ser acusado de imperialismo ou, no mínimo, de pactuar com ditaduras.
Por fim pareceu-me que alguns candidatos ficaram de olhos esbugalhados quando alguém disse que até Bin Laden tinha chamado à atenção da falta de democracia no mundo Árabe e pareceu-me que esse esbugalhamento se devia ao facto (que me parece óbvio) de que em matéria de democracia Bin Laden, pela prática em que esteve envolvido no Afeganistão, só podia referir-se a uma ditadura ainda mais sanguinária e obscurantista. Lembremo-nos das crianças afegãs que finalmente podem ir à escola. Pareceu-me, por breves momentos, que a referência, pelo convidado, a Bin Laden o colocava ao lado deste, ou colocava este ao lado dele.
Fundamenta-se, frequentemente, a tomada, por George Bush, de decisões disparatadas, pelo facto de só depois de ele ter conquistado a Casa Branca ter tirado passaporte. Esta acusação recorrente, que não ponho em causa, tende a generalizar ao povo americano a perniciosa falta de contacto com outras civilizações. O busilis é que sempre que assisto a este tipo de debate sinto que a Europa discute um mundo que não existe, que os Norte Americanos o conhecem melhor que os europeus (eventualmente até acerca da própria Europa) e pergunto-me para que servirão os passaportes que na Europa são mais tirados e usados.