30/11/2005

Judite de Sousa e Manuel Alegre

Judite de Sousa entrevistou ontem, 29 de Novembro de 2005, na RTP1, Manuel Alegre, contra-candidato à Presidência da República.

Judite de Sousa xingou o juízo de Manuel Alegre, durante mais de 18 minutos, sobre politiquice. Manuel Alegre deixou-se embrulhar.

Judite de Sousa é uma excelente entrevistadora em matéria de politiquice. Vasculha tudo o que diz respeito a fofoca interna do mundo da política.

No que respeita à abordagem de matérias entre eleitor e eleito, Judite de Sousa não está tão à vontade. Será que o mundo dela é o mundo da politiquice?
Voltando ainda a Manuel Alegre, será que se mostrará capaz, caso chegue à Presidência da República, de impor a disciplina e dizer o que tem a dizer no momento próprio, ou deixar-se-á também, facilmente, embrulhar em conversa de chaxa?

.

Aquecimento global



A prova final (recebido via e-mail).

.

28/11/2005

Esperança

Via O Observador, Esperança.

Condeleeza Rice, no Institut d'Études Politiques em Paris, a 8 de Fevereiro de 2005. Excerto retirado da revista American Interest, Outuno 2005, pág. 50.

"We know we have to deal with the world as it is. But we do not have to accept the world as it is. Imagine where we would be today if the braves founders of French liberty or of American liberty had simply been content with the world as it was. They knew that history does not just happen; it is made. History is made by men and women of conviction, of commitment and courage who will not let their dreams be denied."

(Tradução)
"Sabemos que temos que nos haver com o mundo tal como ele é. Mas não o temos que o aceitar como ele é. Imaginem onde estaríamos hoje se os bravos fundadores da liberdade francesa ou da liberdade americana se tivessem dados por satisfeitos com o mundo tal com era. Eles sabiam que a história não acontece simplesmente; ela é feita. A história é feita por homens e mulheres de convicção, de empenho e coragem, que não deixam que os seus sonhos sejam negados.”

.

Só faltava esta

http://www.worldjumpday.org/

.

24/11/2005

A "informação" da RTP e a propaganda

Actualização: Posteriormente, este outro artigo veio acentuar o disparate abaixo analisado.



Nas estações de TV nacionais, a propaganda (neste caso anti-americana) atinge, por vezes, um pináculo de estupidez militante difícil de igualar. Suponho que alguns dos seus exercitantes pertençam a um grupo de eleitos entre os mais aguerridos niilistas nacionais ou, quem sabe, pela acção da globalização, mundiais.

Vejamos esta peça, aparentemente produzida pela batuta de Graça Andrade Ramos, jornalista da RTP, sobre “a luta”, nos Estados Unidos, entre a teoria científica desenvolvida por Charles Darwin que explica a evolução das espécies (evolucionismo) e um dogma (religioso) que defende que as espécies surgiram tal qual as conhecemos hoje após terem sido criadas pelo Criador, (criacionismo).

O áudio da peça (emitida às 22 horas de 16 de Novembro de 2005) pode ser aqui escutado.

Repare-se como, a propósito de uma exposição evocativa dos 150 anos da elaboração da teoria da evolução, se difunde propaganda que mais não pretende que remeter o estado norte americano da Pensilvânia, e os americanos em geral, para as calendas da Idade Média.

A peça começa por fazer crer que a teoria da evolução necessita de defesa face ao criacionismo, aproveitando para propagandear que haja rejeição a esta teoria por largas camadas da população americana . Diz o jornalista pivô (em estúdio) na fase inicial da peça:
Uma exposição sobre Darwin vai abrir em Nova Iorque. O objectivo é defender a teoria da evolução elaborada pelo cientista há 150 anos e que continua a ser rejeitada por largas camadas da sociedade americana.
Já que a jornalista (suponho que também esta fase inicial da peça seja da autoria de a jornalista) se imbui em educadora da classe operária, podia ter esclarecido que, qualquer católico que siga a Bíblia à risca, terá que rejeitar necessariamente a teoria de Darwin porque esta transforma implicitamente numa falsidade tudo o que a Bíblia defende neste campo. No entanto, na Europa como nos Estados Unidos, a percentagem de pessoas que segue por essa via é residual. Aliás, muito menos residual na Europa como nos Estados Unidos é a percentagem de pessoas que desconhecem tanto a teoria como o dogma e esse assunto escapa à jornalista.

Avança então a jornalista:
Em 1850, Charles Darwin publicou ‘A Origem das Espécies’. A sua teoria postula que toda a vida evolui graças a um mecanismo de selecção natural e está em constante mudança.

Numa exposição que levou 3 anos a preparar os visitantes podem acompanhar a própria evolução dos estudos e da teoria de Darwin, depois da sua visita às ilhas Galápagos.
Um entrevistado intervém:
The theory of evolution by natural selection, Darwin’s theory, is only a theory. I would say that it’s a theory that is testable in many ways, is based on observations. A huge wealth of material has been gathered over the 150 years since it was published.

(Tradução)
A teoria da evolução por selecção natural, a teoria de Darwin, é apenas uma teoria. Eu diria que é uma teoria, baseada em observações, testável de muitas maneiras. Uma vasta riqueza de materiais tem sido recolhida desde que a teoria foi publicada, há 150 anos.
A jornalista entrega-se agora, de viva voz, ao exercício do disparate absoluto:
Mas a contestação continua. Alguns consideram a teoria da evolução insuficiente por não explicar toda a complexidade da origem da vida.
Isto pode ser dito sobre toda e qualquer matéria científica. As únicas teorias que explicam tudo e mais alguma coisa são as explicitadas, por exemplo, na Bíblia. Para fundamentar o disparate a jornalista referiu a insuficiência, em abrangência, da teoria da evolução, para lhe lançar uma mancha que lhe permitirá projectar-se para o mundo do absurdo, continuando:
Nos Estados Unidos há mesmo estados que recusam ensiná-la nas escolas. Na Pensilvânia, por exemplo, prefere-se o criacionismo, que se baseia literalmente na descrição bíblica da criação do mundo.
Se a peça acabasse aqui eu diria que a jornalista estaria a propagandear o criacionismo. Entretanto, a história da Pensilvânia é falsa.

As escolas e universidades dos Estados Unidos têm uma flexibilidade acima do que estamos habituados. Nas zonas em que algumas delas estão situadas há uma larga faixa de habitantes (estudantes) que, por via da educação religiosa, são postos perante o choque da existência da teoria da evolução. Nesse contexto surgem reacções e, para evitar criar “matérias tabu”, essas escolas decidiram que, além de ensinarem a teoria de Darwin, explicariam também, especialmente aos alunos que nada sabem de criacionismo, que biblicamente, se defende que as espécies teriam sido criadas espontaneamente.

É claro que o parágrafo anterior nunca daria jeito para se poder sugerir que os estados unidos estão de tal forma pejados de imbecis que, pelo menos num estado, a Pensilvânia (mas depreende-se que haverá outros), não se ensina, de todo, o evolucionismo nas respectivas escolas.

A peça continua, e é o fim da peça a única coisa que leva a concluir que a jornalista não propagandeia simplesmente o criacionismo. Nessa altura uma outra entrevistada explica:
Darwin’s theory of evolution is the only scientific explanation for the diversity of life on earth, as we know it today. These other theories are reactions, social non-scientific reactions.

(Tradução)
A teoria da evolução de Darwin é a única explicação científica para a diversidade da vida tal como a conhecemos hoje na Terra. Essas outras teorias são reacções, reacções sociais não científicas.
Na eminência de que este último depoimento pudesse pôr em causa toda a manobra de propaganda, a jornalista apressa-se a abafar o esclarecimento prestado pelo entrevistado.

É claro que se poderia argumentar que, se fosse o caso, a entrevista podia ter sido, simplesmente eliminada. Mas já dizia António Aleixo:

P’ra mentira ser segura
E atingir profundidade
Tem que trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade.

... e continua a jornalista à carga:
A mostra também inclui a controvérsia, tentando esclarecer os hesitantes.
Esta frase é lapidar. Parece dela saltitar: “mas a mostra jamais conseguirá esclarecer os estúpidos dos americanos, de tal forma que, até na exposição o criacionismo está presente”.

Finalmente a jornalista remata com pura informação:
A exposição abre sábado, dia 19, em Nova Iorque. É já uma antecipação das comemorações do nascimento de Darwin em 2009.
----

Vejamos o que nesta peça é informação:
Uma exposição sobre Darwin vai abrir em Nova Iorque.

Em 1850, Charles Darwin publicou A Origem das Espécies. A sua teoria postula que toda a vida evolui graças a um mecanismo de selecção natural e está em constante mudança.

Numa exposição que levou 3 anos a preparar os visitantes podem acompanhar a própria evolução dos estudos e da teoria de Darwin, depois da sua visita às ilhas Galápagos.

The theory of evolution by natural selection, Darwin’s theory, is only a theory. I would say that it’s a theory that is testable in many ways, is based on observations. A huge wealth of material has been gathered over the 150 years since it was published.

(tradução)
A teoria da evolução por selecção natural, a teoria de Darwin, é apenas uma teoria. Eu diria que é uma teoria, baseada em observações, testável de muitas maneiras. Uma vasta riqueza de materiais tem sido recolhida desde que a teoria foi publicada, há 150 anos.

A exposição abre sábado, dia 19, em Nova Iorque. É já uma antecipação das comemorações do nascimento de Darwin em 2009.
Tudo o resto, ou é pura propaganda, ou depoimentos resultantes de perguntas que pretendem levar os especialistas a falar do criacionismo por forma a dar “um cunho científico” à “luta” entre evolucionismo e criacionismo.

O facto de ela ser anti-americana é apenas um pormenor. Este método é frequentemente usado nos mais variados meios de comunicação social para “defenderem” os mais diversos “pontos de vista”.

Um belo exemplo da mais pura propaganda.

.

Extinções ...

Suspeito que este partido se extinguirá antes desta outra extinção ter lugar...

.

... aviões da CIA ...

A histeria sobre os voos e aterragens de aviões da CIA na Europa começa a dar os primeiros frutos (neste caso bolas encestadas).

.

We apologize ...

22/11/2005

Orgia

A orgia mediática à volta das baixas sofridas por Portugal no Afeganistão deveria demonstrar-nos quão pacóvios somos.

Não só a produção informativa é absolutamente descabida como se denota uma absoluta incapacidade de demarcação das instituições (forças armadas) no alinhamento ao disparate.

.

21/11/2005

... então e o Teorema de Pitágoras e a Lei de Ohm?



Mário Soares diz que:


“... um PR deve conhecer 'Os Lusíadas' “
... e também o teorema de Pitágoras, e a lei de Ohm.

Será que Soares se enquadra neste espírito?

.

Queremos o graveto!!! Queremos o graveto!!!



O Fenómeno, produziu mais uma tirada, desta vez contra os ingleses.

Segundo Freitas do Amaral, Tony Blair nada fez para resolver o embróglio do financiamento da comunidade.

Diz o Ministro dos Negócios Estrangeiros Luso (via TSF):
«É o que está à vista. Portanto, temos de lutar pelo nosso, que é mais antigo e que é mais substantivo e que não é o de uma Europa de comerciantes mas sim um projecto político, económico, financeiro e social. Tudo coisas que a Grã-Bretanha não quer admitir e está a tentar diluir»
Não se percebe onde é que Freitas do Amaral vê algo de errado com a conduta dos ingleses. “Nós” lutamos para sacar o graveto à Comunidade. Os Ingleses lutam para não lho entregarem. Em que é que a nossa “perspectiva” do assunto nos dá uma idoneidade especial face aos ingleses?

.

17/11/2005

Sobre a ANF, onde anda o PCP?



Relembro este meu artigo, de Abril, sobre declarações de Bernardino Soares do PCP acerca do comportamento do governo.

Gostaria de saber o que pensa ele agora sobre este outro artigo do DN (via Causa Nossa). Será que o PCP ainda defende que a Associação Nacional de Farmácias deve ser uma instituição a proteger das garras do governo?

Já agora, este outro artigo de Vital Moreira é excelente e enquadra-se na ocupação do éter.

.

RTP - Telejornal de futebol

No site da RTP, o link correspondente ao Telejornal de 15 de Novembro de 2005 (canal 1), contém um jogo de futebol ...

Viva o serviço público.

.

16/11/2005

Redundância ...


... escreve Vital Moreira no blogue Causa Nossa.

É forte.

.

TVs francesas auto controlam-se

Pela voz de uma pessoa da Rádio Paris Lisboa entrevistada num programa da RTP-2 exibido de madrugada de hoje (16/11/2005), ficámos a saber que as estações de TV francesas, num acordo tácito, tinham decidido deixar de exibir imagens dos incêndios e dos incendiários, após terem percebido que a exibição dessas imagens estava a ter o efeito de dinamizar o processo de fogo posto.

Segundo explicado, os responsáveis pelas TVs foram-se apercebendo, ao longo dos primeiros dias, que a exibição dos incêndios era, para os incendiários, uma espécie de trofeu conseguido pelo feito, portanto encorajador de novos desacatos.

Para quando decisão idêntica, em Portugal, relativa aos incêndios florestais? Relembro este meu outro texto sobre o assunto.

E, já agora, alguém se recorda de ter visto este assunto abordado nos órgãos de comunicação social portugueses? Ter-se-há dado o caso de todos eles terem alinhado, mesmo sem acordo expresso ou tácito, num black-out (censura) à notícia da decisão das TVs francesas, por esta decisão poder vir a levantar a lebre e colocar em causa a forma como os jornalistas lusos fazem a cobertura dos nossos fogos de verão?

Aqui estava uma boa ocasião para que os pseudo esquerdistas jornalistas de serviço mostrassem que estavam “contra o sistema”. Aposto que se este tipo de coisa se passasse nos Estados Unidos da América não faltariam vozes sibilinas a acusar os americanos de censura. Basta lembrarmo-nos do chinfrim que foi feito pelos anacletinhos jornalistas (entre outros) quando as estações norte americanas resolveram não divulgar imagens das vítimas do 11 de Setembro, exactamente pelo mesmo tipo de razão: não atribuírem um prémio aos terroristas.

.

Estados Unidos – Mais uma vitória diplomática?

Enquanto a administração norte americana, pela pessoa de Condoleezza Rice, consegue mais um acordo histórico entre israelitas e palestinianos, os mais insignes multilateralistas europeus continuam atascados até aos cabelos em problemas internos.

A Alemanha tentando fazendo gatinhar um governo que demorou séculos a formar. A França, literalmente tentando apagar fogos ateados por aqueles de quem sempre achou ser a mais paladina defensora.

O comportamento de potência imperial norte americano torna-se patente não só por via do seu “arregaçar de mangas” como pela absurda conversa multilateralista de europeus que ciclicamente levantam a galinácea cabeça pensando serem girafas.

.

Jornalismo e propaganda

Sobre o acordo entre israelitas e palestinianos conseguido por Condoleezza Rice, vejamos mais um exemplo de pura propaganda anti israelita exercitada por uma jornalista da RTP-2 no Jornal das 22h.

Dizia a jornalista a determinada altura:

“Até agora os israelitas alegaram que o potencial perigo de entrada de armas e explosivos em Gaza, resultaria em ataques contra o seu território. Os palestinianos respondem dizendo que Israel tentou sempre asfixiar a economia palestiniana.”

A propaganda consiste em denegrir um dos contendores em favor de outro e apoia-se em duas palavras: “alegam” e “respondem”.

Os israelitas alegam, os palestinianos respondem.

A jornalista podia dizer que ambos alegavam. Ou que israelitas diziam e palestinianos respondiam. Mas não. Alegar soa a: “alegar mas ...”. Soa a: “eles alegam mas sabe-se que não é bem assim”. Alegar, lança uma suspeita implicando um juízo de valor sobre o que se alega. Os palestinianos “respondem”. Coisa simples, sem encrencas.

E assim vai, no serviço público, a informação isenta.

.

15/11/2005

Os avestruzes



Já com a fervura assente em França (com a promessa de que o cheiro a esturro vai continuar), vai assentando a ideia de que o projecto de multiculturalidade em França tem que receber novo impulso. E eu continuo a dizer que continua a política de avestruz.

Voltamos à velha história de sempre se fugir ao problema de se discutir até que ponto conseguem duas culturas, extremamente diferentes, coexistir porta a porta.

No seu blogue Abrupto, Pacheco Pereira escreve sobre o programa Diga Lá Excelência, com Rui Marques:

Tenham medo, tenham muito medo da série de ideias ultra-politicamente correctas do pomposamente chamado Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas (eu a pensar que num mundo "multicultural" não havia "minorias étnicas"), expostas no estilo da Raposinha do Aquilino, "com muita treta", no Programa "Diga lá Excelência" e reproduzidas no Público de hoje. Aqui vai uma pobre amostra do discurso cheio de certezas do Alto-Comissário:

Só nós:

"A Europa está a viver um tempo triste em que se está a fechar numa concha, erguendo muros e barreiras à sua volta. A opinião pública espanhola ra das poucas que se mantinham abertas, agora restamos praticamente só nós, os portugueses."

Onde estão "talheres" coloquem coisas como o estado de direito, a democracia, valores civilizacionais como a igualdade das mulheres e dos homens, repúdio da violência "cultural" (excisão do clitoris, etc.):

"Quando eu convido alguém para almoçar comigo não é normal que eu exija que todos comam com talheres?

Não é obrigatório. Eu acho possível sentar à mesma mesa pessoas com registos culturais, históricos e eligiosos completamente diferentes.

Com pratos diferentes, instrumentos diferentes?

Exactamente. Em contexto global, é isso mesmo que temos que fazer. O grande perigo que corremos é querer que toda a humanidade se sente à nossa mesa comendo com os nossos talheres e com a nossa culinária."


Preconceitos:

"Vamos então a um caso concreto. Defende escolas só para algumas comunidades imigrantes, com currículos especiais?

Não, a interculturalidade não é isso. Isso são versões suaves de multiculturalismo, versões de segregação, de separação de diferentes comunidades.

Mas parece que a escola portuguesa não interessa muito aos filhos dos imigrantes...

É um preconceito.

O insucesso escolar nestas comunidades é um preconceito?

Mas o insucesso escolar não tem que ver com o interesse na escola portuguesa. Temos
todos a ganhar com a aceitação da diversidade. De ver a realidade a partir do ponto de vista do outro."

As certezas enfatuadas e o tom dogmático eram tão evidentes que até os jornalistas habitualmente calmos estavam irritados.

----

Gostava de saber que casal ocidental era capaz de aguentar um almoço com outro casal em que a respectiva mulher tivesse de ficar na mesa ao lado para não haver misturas.

E, neste caso, quem seriam os intolerantes? Os ocidentais, se não aguentassem a cena, ou os “alternativos” que não quereriam misturas?

E ainda, como “integrar”, sem que uma das partes abdique de algo que julgue absolutamente fundamental? Quem defende que, no cenário acima, a mulher ocidental vá para a mesa da mulher “alternativa” como sinal de respeito pela outra cultura?

Como ficamos neste cenário em que uma cultura “alternativa” não quer mistura de sexos? Criamos escolas “alternativas” em que rapazes e raparigas ficam separados? E isto não é exclusão? Criamos turmas “alternativas” em que rapazes e raparigas ficam separados? E isto não é exclusão?

Que direito tem um estado, pelo ponto de vista dos “multiculturalistas”, de obrigar que turmas sejam compostas por jovens de ambos os sexos?

Como se dá trabalho a pessoas que por terem uma cultura “alternativa” não se querem relacionar de igual para igual com pessoas do sexo oposto?

E, caso os seguidores dessa cultura “alternativa” cedam e comecem a comportarem-se como ocidentais, isso não implica um abandono da sua cultura “alternativa”?

Continuemos, pois a aderir aos pontos de vista do Alto-Comissário, e veremos se dentro em pouco não estoira a bronca em Portugal.

.

Pescando



Saltitando por outros blogues, aqui junto três artigos que suponho serem de realçar:

No Câmara Corporativa (via Causa Nossa), Lista de Aposentados no ano de 2005 (Janeiro a Novembro) com pensões superiores a 5 mil euros mensais.

No Causa Nossa, Soma e Segue.

.

Dependência - Ajdrubal


Aqui, há uns tempos, deambulei pelo mundo da dependência da esquerda face à direita. Vou consubstanciar.

Usando a linguagem da esquerda, imagine-se que havia outro candidato “à direita”.

Chamemo-lhe Ajdrubal.

Suponhamos que, nessa perspectiva, uma s primárias davam os seguintes resultados:

Ajdrubal 25%
Cavaco - 23%
Soares - 18%
Alegre - 16.9%
Louçã - 8.8%
Jerónimo - 8.3%

Já repararam quem passaria à segunda volta? Já repararam que, mesmo tendo a esquerda, neste cenário, mais de 50% dos votos (52%), quem passaria à final seriam os dois candidatos da direita?

A esquerda só se dá a luxo de apresentar uma capoeira de candidatos porque está confiante de que a direita só apresentará um único.

A esquerda quer usar as eleições presidenciais para, à custa de todos os portugueses, dirimir a liderança no seu campo. Espero que a manobra lhe saia furada, para ver se ela percebe que há mais mundo para além da esquerda. Seria bom para todos.

.

14/11/2005

Justiça e jornalismo



No Jornal das 20 de 12 de Novembro, a SIC abordou um caso em que uma pessoa teria sido sentenciada a 2 anos de cadeia por ter roubado um telemóvel.

A coisa andava ainda à volta de um problema relativo à presença, ou não, do acusado, no local em que lhe era apontado ter cometido a patifaria e do valor dos objectos roubados.

Se a sentença era justa ou não, não é por aí que vou nesta prosa, mas de algumas facetas do assunto que me saltaram à vista.

Em primeiro lugar, o tom de agressividade com que um juiz interrogava uma testemunha. Julgava que não fosse, de todo possível, que num tribunal fosse usado aquele tom, que julgava morto e enterrado desde o 25 de Abril. Quando vejo alguém a falar com outra pessoa naquele tom, pergunto-lhe habitualmente: “Oiça lá, isso são modos de falar com alguém?”

Logo depois, em estúdio, o Jornalista entrevistou o juiz desembargador Eurico Reis que explicou, mais ou menos por estas palavras; “ ... a sentença não é proferida pelo valor das coisas, mas pelo abalo moral que a vítima sofre pelo facto de ser vítima de um roubo”. E logo a seguir pormenorizou: “Quando se rouba alguma coisa a alguém, está-se a retirar horas de vida a essa pessoa, porque os objectos foram comprados pelo ganho em horas de trabalho ...”

Raios me partam se a segunda explicação não contraditou completamente a primeira ...

Já agora, a explicação inicial do Juiz faz, quanto a mim, sentido. E a segunda também porque, suponho, permita um processo de compensação monetária face ao prejuízo causado. Mas continuam a ser duas coisas que não se podem meter no mesmo saco porque só a primeira me parece fazer sentido justificar prisão.

Entretanto percebe-se que nem a jornalista que tinha feito o trabalho nem o pivot em estúdio estavam conscientes do que tinha em mãos. Para eles, a sentença era função do valor do telemóvel. Parecem também ter achado razoável que o juiz tivesse entrevistado a testemunha da forma como o fez e era patente na gravação, caso contrário deveriam ter abordado essa matéria. Quanto a este último assunto, parece-me ter detectado um certo mau estar em Eurico Reis.

Como quem não quer a coisa é ainda abordada, em jeito de tangente, a delicada posição da advogada que defendia o acusado. Segundo percebi, a posição dela seria crítica porque tendo sido nomeada pelo tribunal não sentiria liberdade suficiente para fazer, na sala de audiências, o que era suposto. Pareceu-me que haveria ali um conflito de interesses entre a advogada e o tribunal, o que implica que este já tivesse uma ideia pré concebida face ao acusado.

Segundo julgo ter percebido, a advogada não quereria morder a mão que lhe dava de comer ...

Com tanto pano para mangas, a peça informativa (?) insistia na questão do preço to telemóvel ...

.

Mário Soares faz mais uma comparação tosca



Referindo-se a Cavaco Silva e respectivo posicionamento face ao défice, Mário Soares comparou a eventual vitória daquele à subida ao poder de Salazar que “depois ficou lá 48 anos”.

A falta de consciência de Mário Soares é de tal ordem que já não se importa de limpar a imagem de Salazar para tentar mordiscar Cavaco Silva.

Há alguém que lembre ao nosso ancião que quando Cavaco Silva ganhou eleições (legitimamente) exerceu o poder, e quando as perdeu, se afastou? Será que Mário Soares já só recorda a história antiga?

Salazar e Cavaco foram primeiros ministros (embora no tempo de Salazar se chamasse Presidente do Concelho) e Salazar, de facto, só largou o poleiro quando caiu da cadeira.

Mas quem ocupa agora a posição que Salazar ocupava é José Sócrates. Mário Soares deveria portanto chamar a atenção de que José Sócrates poderia vir a não querer largar o poder.

.

Centrais sindicais públicas e privadas

Já se tornou lugar comum que as centrais sindicais se preocupam, basicamente, com o sector público.

É pena. E é pena que não se forme uma central sindical exclusivamente dedicada aos sector privado.

Nesse cenário seria interessante criar ainda um outro. A presença, em simultâneo, de ambas as centrais nas negociações no âmbito da concertação social.

Suponhamos que a central representativa do sector público reclamava aumento de salários. Seria interessante ver a outra central opor-se por perceber que isso implicaria um aumento de impostos.

E seria ainda mais interessante ver a central representativa do sector privado reclamar que a outra alinhasse na dinamização de maior eficiência dos seus trabalhadores de forma a libertar verbas que pudessem permitir o abaixamento de impostos que possibilitasse uma melhoria do nível de vida dos trabalhadores do sector privado.

… wishful thinking ...

...

Dependência



Uma das bandeiras da esquerda portuguesa dos anos 70 consistia na promoção da emancipação do homem (leia-se proletariado - homem do povo). Era um movimento que pretendia retirar à direita alguma base de sustentação, minando a tradicional relação entre senhor e servo.

Quando era criança lembro-me, que na zona onde vivia havia dois condes. Um deles ainda o avistava de vez em quando. O outro, nunca lhe pus a vista em cima.

O conde habitava uma casa enorme, tinha vastos terrenos, tinha vida de burguês. Os que para ele trabalhavam habitavam casas modestíssimas, trabalhavam de sol a sol, verão ou inverno, chovesse ou não, geasse ou não, e não recebiam se não trabalhassem. Caso ficassem durante algum tempo sem trabalho, valiam-lhes as galinhas, os perus, os coelhos que iam criando.

Eu vivia com avós reformados, e, por essa via, tinha uma vida de mais qualidade do que os meus colegas da primária. A maioria deles (6 a 10 anos), vindos da escola (que só ocupava umas 4 horas por dia), trabalhava nas fainas da casa apanhando erva, alimentando os animais, mudando a cama dos animais, etc. Um trabalho que hoje seria absolutamente inaceitável, mas que era o dia a dia há cerca de 40 anos. O meu caso não ia além da pastagem de perus. Tendo presente a fome do tempo da guerra que nos era relatado pelos mais velhos, o meu trabalho e o dos meus colegas não passavam de uma brincadeira face ao que os anciãos contavam.

A vasta maioria dos meus colegas da primaria não passou da 4ª classe. Eu pertenci a um pequeno grupo de meia dúzia de bafejados que fizemos os exames de admissão à escola técnica e liceu (que corresponderia hoje a um exame de admissão no segundo ciclo do ensino básico).

Voltando à carga inicial, sentia-se muito directamente o peso da instituição “condes”.

Os condes não seriam parvos de todo. Penso não estar longe da verdade se disser que haveria uma deferência respeitosa destes face aos trabalhadores. Essa deferência não chegava evidentemente ao ponto de os tornar plenamente sensíveis face às dificílimas condições de vida dos trabalhadores da zona, mas esses trabalhadores sentiam-se, de alguma forma, que eram tratados com alguma deferência pelos condes. Talvez o sentissem por se lembrarem dos idos ...

Com o 25 de Abril espalha-se o vírus da emancipação do homem. Penso que muita gente ficou em pânico de ambos os lados da barricada. Os condes por razões óbvias. Mas também muitos trabalhadores sentiam que as novas ideias de emancipação os deixariam órfãos ... mais vale o diabo que se conhece ...

Os tempos passaram e nalguns casos mais noutros menos, a emancipação teve lugar e a influência dos condes esbateu-se.

Eram tempos em que uma direita mais ou menos caceteira queria perpetuar esta relação paternalista/exploradora com o trabalhador.

A esquerda, regra geral, acabou, nesta matéria, sendo bem sucedida, e, em abono da verdade também muita direita, mais ou menos burguesa mas mais civilizada, acabou por alinhar numa relação mais bem nivelada com a generalidade dos proletários de então.

Evidentemente que o filme que acima recordo espelha, se as minhas faculdades de percepção não falham (ou falharam) uma realidade local, bastante limitada no espaço e no tempo.

Mas suponho que seja suficiente para abordar problemas relativos à dependência.

Sou capaz de não estar muito baralhado se afirmar que a maioria da população de Portugal desenvolve alguma espécie de mecanismo de dependência, face a alguém ou a algo. Não sei se não será, simplesmente, um mecanismo semelhante à dependência que, desde tenra idade, todos tendemos a manter, durante pelo menos a menoridade, com nossos pais. A verdade é que me intriga a dependência que a maioria dos portugueses parecem demonstrar, e que me parece doentia, a futebol, telenovelas, reality shows e outros programas de elevada toxicidade, música pimba, chunga, de encher pneus ou penicos, até dependência religiosa face a alguns comportamentos que suponho serem algo aberrantes.

Depois do sucesso que a esquerda obteve na dinamização da auto-emancipação do proletário, suponho que aquilo que então se esperava vir a ter lugar, a evolução no sentido do assumir de uma identidade de cidadão, veio a revelar-se um processo frouxo.

Enquanto por um lado a generalidade da população se foi emancipando face às dependências reinantes no panorama pré 25 de Abril, por outro foi aderindo aos vários tipos de dependências já antes referidas. Se muito embora as implicações dessas novas dependências tenham pouca relação às anteriores, elas têm fortíssimas implicações indirectas no nível cultural de todo o país.

Por nível cultural não entendo saber quantos cantos têm os Lusíadas, mas cultura em relação a todos os campos das letras e ciências.

Estando consciente de que, apesar de tudo, o nível global cultural (médio) sofreu uma melhoria, suponho que não terá sido suficiente para que tenhamos podido acompanhar o ritmo (para já não falar em aproximarmo-nos) dos restantes países da Europa.

Voltando à dependência, suponho que a globalidade da esquerda, não sei se consciente ou inconscientemente, se tenha deixado lentamente escorregar para a dinamização de um mecanismo em que passou a defender a elevação do estado à posição de tutor do cidadão comum.

Para alguma esquerda sindical, especialmente após a queda do muro de Berlim, este mecanismo revelou-se capaz de auto-sustentar a promessa de um estado de coisas em que, por um lado, um estado cada vez mais omnipresente e “zelador” passa a poder justificar a sua própria dimensão, e por outro, promete e ensaia um cada vez maior papel de tutor do cidadão comum. Este comportamento é particularmente notório no ensino, (elevado a educação, tal a fúria tutorizante), segurança social, e para com os cidadãos mais desprotegidos. Este comportamento para com o ensino não é inocente. Ele pretende garantir a “sustentabilidade” do estado de coisas.

Tudo isto conduziu o estado a assumir uma relação paternalista para com o cidadão ao arrepio de uma saudável relação adulta, de cidadão emancipado, a caminho do exercício de uma salutar cidadania.

Tal como fazem os adolescentes mal criados para com os progenitores, temos todo um país a insultar o estado e a exigir dele, simultaneamente, tudo e mais alguma coisa. E os governos, venham lá de onde vierem, mesmo que se apercebam do problema, nem sabem para onde se hão de virar.

Suponho que o estado de coisas em França tenha algum grau de paralelismo com o que escrevo porque é exactamente ali que parece morar a mais infinita fé no estado social “à moda da Europa” – dizem os seus defensores embora suponha que uma boa parte dela não alinhe pelo disparate.

.

10/11/2005

Sem a presença de Cavaco Silva, Mário Soares esfuma-se


O contra‑candidato Mário Soares está com problemas existenciais.

De acordo com as declarações de hoje à TSF, se Cavaco Silva não lhe ligar nenhuma, a existência da contra‑candidatura de Mário Soares fica posta em causa. O problema é, aparentemente, de tal forma sério que, se Cavaco Silva continuar sem lhe ligar peva, é de supor que Mário Soares venha mesmo a tomar a decisão de retirar a sua contra‑candidatura.

Diz Mário Soares:
«Parece que o professor Cavaco Silva vai agora fazer uma viagem, o que lhe permite continuar numa posição de não fazer pré-campanha. É uma posição que lhe agrada certamente, mas vai-se tornando uma espécie de candidato esfinge».

Esta aflição pela ausência de Cavaco Silva é espantosa. Deve-se certamente a altruísmo político. Veja-se bem, Mário Soares está preocupado por Cavaco Silva estar a perder a possibilidade de expor as suas ideias durante a pré‑campanha. Suponho que não será outra coisa. A não ser que Mário Soares esteja seco de ideias e precise de Cavaco Silva como fonte de inspiração.

E que dizer da “esfinge”? Será uma referência aos atributos de beleza de Cavaco? A ser assim será, talvez, uma piscadela de olho aos Anacletos!

E Mário Soares continua. Segundo a referida TSF, “na opinião de Soares, a circunstância de o candidato apoiado pelo PSD e CDS-PP estar «silencioso e ausente do país» está a condicionar a pré-campanha dos restantes candidatos no que se refere à organização de debates, o que considerou «inaceitável»”.

Não tarda muito Mário Soares aventará a possibilidade de não se poderem realizar eleições presidenciais por causa da ausência de Cavaco. Para Mário Soares, sem Cavaco não há Portugal.

Para quem ainda tenha dúvidas, Mário Soares clarifica:
«Os debates devem ser com todos, não há que discriminar nenhum candidato e, portanto, ele próprio não pode ser discriminado. É um bocadinho pesado que, por ele ter organizado a sua vida de modo a prolongar o tabu do silêncio, os outros fiquem privados da palavra, o que não pode ser. Isso é inaceitável».

Veja-se bem quanto Mário Soares se preocupa com a eventual discriminação de que Cavaco Silva possa vir a ser vítima. Até parece que Mário Soares está com receio de não vir a ter a oportunidade de votar em Cavaco Silva.

E quanto à possibilidade de a ausência de Cavaco Silva vir a privar da palavra aos restantes candidatos? Até parece que, sem Cavaco Silva todos ficam sem pilhas.

Percebe-se que Cavaco Silva vá viajar. Fica em Portugal Mário Soares para relembrar da indispensabilidade de Cavaco Silva como figura fulcral no panorama presidencial português.

Não admira que já anteriormente, Mário Soares, elegesse George Bush como figura de referência a ter em conta em relação à aprovação, ou não, do Tratado Constitucional Europeu.

De cada vez que Mário Soares abre a boca, o disparate é absoluto e total ...

.

Pescando:



O Estendal debruça-se sobre a cagufa, que cada vez mais gente começa a ter, da cachopada. Por causa deles, a França acaba de ficar de cu para o ar.

- À atenção das associações de pais e, em especial, à CONFAP

A Blasfémia, debruça-se sobre a idoneidade dos blogs anónimos (o meu caso). Eu vi parte do programa a que A Blasfémia se refere, mas confesso que o achei tão tosco que adormeci. Já percebi que foi tempo bem empregue.

- A César
- Doutrina nada pacífica
- Do Anonimato

Entretanto o contra-candidato Mário Soares disse mais umas enormidades. Já vou à carga.

.

09/11/2005

Não façam nada que é melhor


Não cabe na cabeça de um tinhoso que, de cada vez que arruaceiros fazem bedum, haja sempre quem venha dizer que qualquer coisa que se faça para controlar a coisa (à excepção de nada fazer ou dar-lhes dinheiro) vai sempre fazer piorar a situação.

Será que esses querubins não percebem que, de cada vez que se cede, se dá mais espaço de manobra tornando a situação cada vez mais difícil de manter nos carris?

.

Enigmas jornalísticos


Agora que toda a gente já percebeu que as arruaças (sim, de arruaceiros) em França não eram, neste caso, resultado de hediondos problemas exclusão, racismo, xenofobia (só faltou ouvir apartheid), mas simplesmente de putos a que nem as respectivas família nem o estado é capaz de dar “um par de estalos” e meter na escola ou pôr a trabalhar, é gostoso ver Paulo Dentinho a balbuciar enigmas que tenta, a todo o custo, fazer passar como uma outra faceta dos disparates que disse nos primeiros dias de arruaça.

Entretanto, em Portugal, está a fazer-se o possível para tentar pôr em marcha uma “operação” idêntica. Hoje, com a SIC, na Amadora, mas suponho que mais órgãos de informação tenham ido pelo mesmo caminho.

.

08/11/2005

Trabalhar faz calos

Depois de ouvir este e este outro depoimento, como se pode acreditar que aumentando o apoio à imigração se obtenha uma melhor integração? Pelo contrário, percebe-se que, quanto mais se apoiar, menos motivos há para que cada um veja vantagem em se integrar.

Estudar, dá trabalho. Trabalhar faz calos.

.

Auto-exclusão social

Hoje, na TSF, a meio da manhã, explicava uma emigrante portuguesa em França, mais ou menos por estas palavras:

Nós já moramos naqueles prédios onde só há agora magrebinos mas quando eles chegaram nós tivemos que ir embora.

Quando chega uma família, traz 10 filhos. A segurança social dá um abono por cada filho, e, com 10 filhos, o total que a família recebe todos os meses dá para ninguém trabalhar.

As crianças depois não vão à escola, ficam por ali sem fazer nada. Depois não aprendem e quando já são mais velhos não conseguem arranjar emprego.

A exclusão social é feita por eles próprios.

.

Paris - Concurso de fogo de artifício

Esta manhã, na TSF, um jornalista entrevista um emigrante português, Martins Alvino (*), em França.



[Entrevistado] Para mim é quase uma guerra, aqui em França. É uma guerra civil.

[Entrevistador] Isto são bairros problemáticos aqui à volta, mas alguma vez viu alguma coisa assim?

[Entrevistado] Não, nunca vi. Os carros estão em fogo, toda o mundo ouve os bombeiros, é um país que está em guerra.

[Entrevistador] As pessoas do bairro tem medo agora de sair à rua à noite?

[Entrevistado] Agora, pelo menos, têm medo. Obrigatoriamente têm medo porque este grupo de jovens não estão bons da cabeça. São perigosos.

[Entrevistador] Neste bairro também há muitos portugueses. Podemos depreender que eles possam estar envolvidos nestas coisas também?

[Entrevistado] Não. É uma minoria. Não há muitos portugueses que façam isto. Pode ser. Mas que não são eles que causam os problemas. Eu tenho 38 anos. Eu tive uma educação ... o meu pai há 17 anos disse-me: Tá bem, sais das escola mas vais trabalhar. Se tu não trabalhares eu ponho-te fora de casa.

[Entrevistador] Há outro estilo de educação com os portugueses.

[Entrevistado] Há outra educação. Não tem nada a ver.

[Entrevistador] Expectativas optimistas em relação ao envolvimento de portugueses, mas piores em relação ao desfecho de toda a crise.

[Entrevistado] O problema hoje é que como queimaram em Corveille(*) 500 carros, em Grugny(*) vão queimar 600 carros, para serem melhores que os outros.

[Entrevistador] Há uma competição entre estes grupos.

[Entrevistado] É isso mesmo. Não é um problema dos dois que morreram, é um problema do fumo. Vão queimar mais carros que os outros.

[Entrevistador] Ver quem destrói mais ...

[Entrevistado] É isso mesmo.



(*) Não estou certo de que seja exactamente este o nome do entrevistado ou da localidade.

.

07/11/2005

As torres gémeas da Europa

Suspeito que o caldinho em França virá a ser muito mais que os atentados de Madrid ou de Londres, o equivalente ao derrube das torres gémeas.

Aqui as torres são outras – welfare e políticas pseudo-integracionistas – e estão sedimentadas num mundo que só existe na cabeça de alguns estados europeus, em particular dos franceses.

Depois queixem-se que Jean-Marie Le Pen ganha votos ...

.

Terrorismo em França - vítima nº 1



Aí está, confirmada, a primeira vítima mortal dos ataques terroristas em França.

Esperemos que o número de baixas não suba como tem subido a destruição.

.

Nós, Israel e o Irão

Blogoexisto escreve:
Nós e Israel

O incitamento a varrer Israel do mapa mostra que o actual Presidente do
Irão ou é fanático, ou é estúpido, ou é simultaneamente fanático e estúpido.
Inclino-me para a terceira hipótese.

Admito que estas declarações serão predominantemente para consumo interno,
mas isso não nos dá o direito de subestimá-las.

Por isso, também eu pergunto: porque se calou o Governo portguês?


Entretanto, o Irão quer reabrir as negociações sobre a história da central nuclear. É de supor que, como anteriormente, se trata de mais uma manobra dilatória.

De qualquer forma já se percebeu que, caso a central comece a "carburar" no sentido que ninguém quer, embora só alguns o admitam, é claro que os Estados Unidos da América ou Israel tratarão do assunto, bombardeando-a, tal como aconteceu à central do Iraque.

.

O Katrina francês

Actualizado



Um sindicato da policia francesa já pediu ao governo francês que imponha o recolher obrigatório nas áreas mais atingidas pela violência que peça a intervenção do exército para ajuda a controlar as multidões.

Estou surpreso por não ter ainda ouvir alguém alvitrar que os tumultos serão obra da CIA.

[Afinal Não. Este mânfio (pelo menos) já teve essa ideia.]

Os Estados Unidos da América ainda vão acabar por ter que deslocar tropas do Iraque para acudir aos franceses ... :-))

.

Navegando a incoerência



Para exemplificar as incoerências que levam um país como a França, a encontrar-se de joelhos perante bandos de rufiões, analisemos algumas coisas que ouvi durante os últimos dias na comunicação social portuguesa.

-

Um jornalista, em directo (TV) refere algo como “... jovens que abandonam uma escola que não lhes interessa”.

Suponho que neste caso o jornalista (não recordo quem) ache razoável que um jovem esteja em condições de decidir que a escola lhe interessa ou não. Face ao exposto percebe-se que escola lhes interessa e onde está um dos seguidores desta nova forma de abordagem da educação de jovens.

-

Alguém ligado ao mundo da filosofia, em directo de França, por telefone, na rádio, refere várias coisas, umas mais, outras menos abstrusas. Uma delas referia algo como “ ... trata-se de um problema cultural, pois os jovens em causa são absolutamente ignorantes”.

Suponho que quando se fala em problemas culturais se aborda o assunto pelo lado em que conflitos possam surgir em virtude de atritos entre diferentes culturas. Falta de cultura não é propriamente um problema do campo da cultura, é um problema do campo da não cultura.

Dá-me a impressão que este tipo de abordagem implica que apesar do grau de cultura daqueles jovens ser nulo, é exactamente por ser nulo que tem direito a ser considerado como cultura.

Faz-me lembrar quando me dizem que determinados telediscos são interessantes por serem um exercício em que nada tem ligação ao que quer que seja e que é nesse absoluta falta de coerência que está a graça da coisa. São coerentes por não a terem. Passarem a cavalos porque, enquanto burros, não sabem comer palha. Cultos por serem ignorantes. ... isto cheira-me a pós modernismo.

-

... a conversa sem sentido do apoio à exclusão, porque é exclusão e enquanto há exclusão.

Porque há-de um excluído querer sair da exclusão se, enquanto excluído, tem direito a apoio?

O apoio à exclusão só faz sentido enquanto limitado no tempo e perante obrigações da parte quem é ajudado. Ao fim e ao cabo a ajuda ao excluído só faz sentido na perspectiva de uma relação adulta, tal e qual a abordada pelo O Acidental: Se o emigrante for tratado com o respeito que se deve a um adulto, então, qualquer modelo económico serve. Se o emigrante for tratado como uma criança, então, não há modelo económico que salve a situação.

Candidato e contra-candidatos



Em Portugal há um grupo de candidatos, e um candidato (real) à Presidência da República:

O grupo – Manuel Alegre, Mário Soares, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã, etc, caracteriza-se por ser composto por não candidatos, ou contra-candidatos. Candidatam-se em função de Cavaco Silva e, antes de tudo, contra ele.

Candidatam-se porque ele se candidata, ou porque suspeitavam que ele se iria candidatar, ou para tentar evitar que ele se viesse a candidatar (para meter medo?).

Nas horas vagas candidatam-se uns contra os outros.

Á excepção de Manuel Alegre (honra lhe seja feita neste ponto), todos os engrupados candidatos são candidatos directamente propostos por partidos, alguns saídos directamente das suas cúpulas (Manuel Alegre inclusive).

Se houver segunda volta, todos eles, à excepção de um, dedicar-se-ão à digestão do sapo.

Todos eles se apresentam simplesmente porque confiam que a direita apresentará um só candidato – em função dela e em menoridade estratégica.

O candidato (real) é Cavaco Silva, o único que, infelizmente e em função do exposto (óbvio), pode ser levado a sério.

.

Semântica no Blasfémias

... Pois claro.

Aqui, o Bloco de Esquerda no seu melhor.

.

Fatwa para desordeiros



Segundo a CNN, invocando a Reuters, um dos maiores grupos islâmicos franceses emitiu uma fatwa contra eventuais participantes islâmicos nos desacatos em França.

“É formalmente proibido que algum Muçulmano, procurando graça divina, participe em qualquer acção que cegamente atinja propriedade pública ou privada ou que possa constituir um ataque à vida de alguém.”

“A contribuição para tais actos é ilícita” ... e é aplicável “a qualquer Muçulmano que viva em França, quer como cidadão quer como hóspede”.

É de notar que cairia o Carmo e a Trindade se coisa equivalente tivesse sido gerada num meio Católico.

É de notar ainda, que a condenação da violência é apenas aparente. Condena apenas a acção que “cegamente atinja” ... Se não atingir cegamente já não é condenável. A lei às urtigas, portanto.

.

O furúnculo está a rebentar



Já há muito que eu (pobre de mim), como muitas outras pessoas, denunciamos a ficção em que alguns países da Europa insistem em viver. Digo países da Europa e não governos, porque estou em crer que a coisa é muito mais grave do que parece.

Há muitos anos (uns 30?) alguém me chamou a atenção de que na Alemanha pós nazi, as forças aliadas tinham obrigado cidadãos alemães a visitar campos de concentração e a ver (de vivo olho) as atrocidades cometidas. Segundo o que me foi relatado, muitos compulsados visitantes, perante o que viam, reagiam rindo às gargalhadas.

Suponho que a tomada de poder pelos nazis não seja, por si só, suficiente para explicar o caminho de atrocidades, e que o medo projectado sobre a generalidade da população alemã pela cataclísmica organização não seja também suficiente para explicar a falta de oposição ao estado de coisas que acabou nas câmaras de gás. Suponho que tenha havido um apoio tácito ao caminho então tomado, senão da generalidade da população, pelo menos de uma percentagem significativa dela.

É certo que os tempos foram passando e que hoje de pouco serve esgravatar a ferida, tanto mais que a generalidade dos alemães de hoje nasceram no pós guerra. Mas é perigoso esquecer a possibilidade do holocausto não ser meramente resultante de um exercício de poder levado a cabo por um grupo de facínoras. Aproveitemos para relembrar o caso da Jugoslávia.

Suponho que a França está a braços com uma circunstância idêntica. Não se trata de uma semelhança de métodos implantados no terreno, mas de uma semelhança no que respeita ao alinhamento em logros. Suponho ainda que não seja só em França, mas suponho ser lá que a coisa mais se faz notar.

Um dos logros consiste em supor-se que tudo o que tenha uma explicação (que pareça razoável) cujas consequências incidam sobre um grupo denominado “vítima” e cujas causas sejam imputáveis a uma determinada “situação”, isentem o vítima de toda a responsabilidade.

Outro logro consiste em meter no mesmo saco integração e direito à diferença. Suponho que uma implica inexoravelmente o fim da outra. Se a diferença é pequena, a integração pode manter-se em suspenso, mas não me parece que seja possível equilibrar, ombro a ombro, posicionamentos muito diferentes, face à vida (e à morte).

Em relação ao segundo logro, suponho que um país se aguenta quando comporta uma enorme quantidade de pouca diversidade ou uma pequena quantidade de muita diversidade, mas não uma enorme quantidade de muita diversidade.

Sei que a Índia é um exemplo do contrário do que afirmo, mas também sei que a Índia é uma realidade muito antiga, que já passou por aquilo que a Europa parece querer evitar. Sei também que os Estados Unidos da América são um exemplo de uma enorme diversidade. Mas a sociedade é tão entrecortada que é essa diversidade que faz a sua homogeneidade. Apesar disso já teve as suas indigestões.

Em relação ao primeiro logro, ele não é mais que o resultado da percepção, mais ou menos inconsciente, de que se está perante uma bomba relógio, e que se pensa ser possível evitar o rebentamento simplesmente deixando passar o tempo.

Que o furúnculo rebentou, já se percebeu. Vejamos se pretendem fechá-lo debelando o núcleo, ou se se contentam em colocar-lhe um penso por cima. Há sinais de que é a segunda hipótese.

.