07/11/2005

Navegando a incoerência



Para exemplificar as incoerências que levam um país como a França, a encontrar-se de joelhos perante bandos de rufiões, analisemos algumas coisas que ouvi durante os últimos dias na comunicação social portuguesa.

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Um jornalista, em directo (TV) refere algo como “... jovens que abandonam uma escola que não lhes interessa”.

Suponho que neste caso o jornalista (não recordo quem) ache razoável que um jovem esteja em condições de decidir que a escola lhe interessa ou não. Face ao exposto percebe-se que escola lhes interessa e onde está um dos seguidores desta nova forma de abordagem da educação de jovens.

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Alguém ligado ao mundo da filosofia, em directo de França, por telefone, na rádio, refere várias coisas, umas mais, outras menos abstrusas. Uma delas referia algo como “ ... trata-se de um problema cultural, pois os jovens em causa são absolutamente ignorantes”.

Suponho que quando se fala em problemas culturais se aborda o assunto pelo lado em que conflitos possam surgir em virtude de atritos entre diferentes culturas. Falta de cultura não é propriamente um problema do campo da cultura, é um problema do campo da não cultura.

Dá-me a impressão que este tipo de abordagem implica que apesar do grau de cultura daqueles jovens ser nulo, é exactamente por ser nulo que tem direito a ser considerado como cultura.

Faz-me lembrar quando me dizem que determinados telediscos são interessantes por serem um exercício em que nada tem ligação ao que quer que seja e que é nesse absoluta falta de coerência que está a graça da coisa. São coerentes por não a terem. Passarem a cavalos porque, enquanto burros, não sabem comer palha. Cultos por serem ignorantes. ... isto cheira-me a pós modernismo.

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... a conversa sem sentido do apoio à exclusão, porque é exclusão e enquanto há exclusão.

Porque há-de um excluído querer sair da exclusão se, enquanto excluído, tem direito a apoio?

O apoio à exclusão só faz sentido enquanto limitado no tempo e perante obrigações da parte quem é ajudado. Ao fim e ao cabo a ajuda ao excluído só faz sentido na perspectiva de uma relação adulta, tal e qual a abordada pelo O Acidental: Se o emigrante for tratado com o respeito que se deve a um adulto, então, qualquer modelo económico serve. Se o emigrante for tratado como uma criança, então, não há modelo económico que salve a situação.