27/10/2005

Panaceia

Panaceia: aqui está uma coisa interessante.

Ou a Micro$$$oft já lhe moveu uma guerra danada ... ou está a preparar-se para isso, aposto.

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13/10/2005

O regabofe continua

Fiquei a saber, pelo programa Prós e Contras (RTP1) de 10 de Outubro de 2005, que tinha sido promulgada legislação no sentido de aumentar substancialmente as subvenções estatais às campanhas das forças políticas concorrentes às eleições autárquicas (não percebi se a nova legislação respeitada a todos os tipos de eleições).

Segundo um dos intervenientes ao programa, a medida destinar-se-ia a evitar que os partidos mergulhassem em esquemas de financiamento menos confessáveis.

A verdade é que ninguém desmente que nas ainda fumegantes eleições autárquicas as despesas com a campanha não tenham disparado até ao céu.

Isto significa que as forças em presença, esmagadoramente formadas por partidos políticos, se estiveram absolutamente nas tintas para a virtualidade da intenção legislativa e prosseguiram pela via da ilegalidade.

A ser assim, porque não há dirigentes partidários no banco dos réus ao lado de Fátima Felgueiras?

Isto só demonstra que Fátima Felgueiras não terá simplesmente sido suficientemente competente para fazer o que continua a ser a prática generalizada, “a coisa pela calada”.

E há ainda quem se admire que a Fátima Felgueiras ganhe eleições ...

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A SIC e o disparate da radiação venenosa


No mesmo Jornal das 13h, de 11 de Outubro de 2005, e em relação a um problema qualquer em Los Alamos (EUA), a SIC, continuando na senda do disparate total, refere, em voz-off: “... o plutónio é radiologicamente venenoso ...”

Mais um disparate. O plutónio é venenoso e radiologicamente perigoso. Mas não é radiologicamente venenoso.

Ser radiologicamente perigoso refere-se ao mundo da física – é capaz de emitir partículas capazes de partir moléculas.

Ser venenoso refere-se ao mundo da química – é capaz de provocar reacções químicas adversas ao organismo humano.

Este disparate equivale a dizer-se que dar uma martelada na cabeça é venenoso.

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42% - quase o dobro

No Jornal das 13h, de 11 de Outubro de 2005, a SIC declara: os trabalhadores da região de Lisboa ganham quase o dobro dos restantes trabalhadores. Em simultâneo exibe um oráculo onde se lê o valor de 42%.

Trata-se de um belo exemplo do nível de ignorância que, em matemática, afecta a esmagadora maioria dos jornalistas.

Embora a matemática em causa não exija mais que o 6º ano de escolaridade, vejamos em pormenor:

- 42% está bastante próximo dos 50%. Logo será razoável que fosse anunciado que os trabalhadores da região de Lisboa ganhavam mais metade do que os restantes.
- 42% está mais longe de 100% (o dobro) do que dos 0% (o mesmo). A SIC arredondou a percentagem a zero decimais, mas, em boa verdade, o arredondamento de 42% a zero decimais dá 0% (0.42 arredonda, a zero decimais, para baixo (0) e não para cima (1.00=100%). Neste caso a notícia deveria referir que os trabalhadores de Lisboa ganhavam o mesmo que os restantes.

A única explicação reside na necessidade de exagerar. E o exagero é notório.

Para se evidenciar melhor o nível de disparate, a verdade é que, mesmo que o diferencial entre aquilo que os trabalhadores de Lisboa ganham em relação aos restantes, fosse o dobro daquilo que é, ganhariam somente mais 84% daquilo que os restantes ganham, portanto ainda abaixo do dobro anunciado. Pela exacta forma de encarar o problema exercitada pela SIC, e mantida a mesma e exacta proporção de disparate, caso o dito diferencial fosse de 84% (ainda abaixo do dobro) a SIC anunciaria que se trataria do quádruplo.
Já agora, a SIC podia enquadrar a coisa e chamar a atenção para o nível de despesas fixas a que os trabalhadores de Lisboa estão sujeitos. O que interessa não é aquilo que se ganha mas com quanto se fica depois de despender o que não pode ser evitado. Mas, claro que, pela perspectiva da SIC, espalhar disparates é muito mais necessário. Se o jornalista da SIC pensasse, a percebia que a peça não tinha qualquer razão de ser.

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Os Melgas da Alegria


Trabalhei ontem até muito tarde. Já na cama descubro, da pior maneira, que o difusor anti-melga se tinha acabado. Durante a noite, mal dormida, matei, à chapada 18 melgas.

Ainda mal acordado, ligo a TV e na RTP1 está o pseudo-alentejano de serviço do programa Praça da Alegria a tecer considerações sobre notícias de um jornal.

Uma das histórias, segundo o personagem, rezaria assim:

Um determinado homem, angolano, encontrava-se retido, com o filho, menor, num campo de repatriamento inglês e na eminência de ser recambiado para Angola.

Porque teria feito parte de um movimento democrático pelo qual familiares seus, ainda no território, estavam a ser perseguidos, alguns deles estando mesmo presos, esse homem não poderia ser repatriado sem correr grave perigo.

Tendo tido conhecimento de que em Inglaterra não seriam repatriados menores órfãos, o angolano decidiu-se e prosseguiu com o suicídio.

A alentejana(?) figura decide então retirar a sua moral da história. Segundo ele, como seria possível que Blair, invasor de países, repatriasse um cidadão naquelas circunstâncias?

À figura de boina e capote, não ocorre perguntar porque anda a sinistra figura de José Eduardo dos Santos a perseguir cidadãos que se envolvem em lutas de cariz democrático.

Não lhe ocorre perguntar porque se perseguem familiares de pessoas que se envolvem em lutas pela democracia.

Não lhe ocorre perguntar como é possível num país em paz, rico em recursos, como Angola, provocar a fuga de cidadãos para o estrangeiro em circunstâncias dramáticas.

Dá implicitamente de barato que reconhece que em Angola está instalado um regime que persegue democratas e que persegue familiares de democratas e não dá mostras de ver nisso qualquer problema.

Por distracção certamente, não repara que justamente o malogrado angolano viu em Inglaterra um potencial território de refúgio.

... e só lhe ocorre culpar Blair pela tragédia, exactamente um dos poucos dirigentes políticos que é capaz de colocar tropas para libertar países que se encontram debaixo de regimes idênticos ao angolano, ... que sumariamente executa democratas ...

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10/10/2005

Cunha monárquica


Mário Soares

Lê-se no Público:


Soares viola lei eleitoral Pela segunda vez em oito meses, Mário Soares violou a
lei eleitoral ao ter defendido ontem a vitória do seu filho, João Soares, nas
eleições para a Câmara de Sintra.
Aposto que, se fosse Santana Lopes, a comunicação social entrava em esteria e, durante 15 dias não falava de outra coisa.

Se Mário Soares comete deslizes tão primários quanto este, imagine-se as escorregadelas de que seria capaz caso chegasse a Belém ...

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Televisão: a opção reles


Escreve João César das Neves, no DN.

Boa parte da programação dos canais generalistas, sobretudo SIC e TVI, é ordinária. Não está em causa a qualidade técnica, sofisticação de métodos ou pergaminhos dos participantes. É a escolha dos temas e atitude no tratamento que é boçal, rasca, estúpida. Mas, ao contrário do que se diz, tal não se deve a imperativos de sucesso ou exigências do público. É mesmo falta de talento dos produtores. A grosseria não vem do que os espectadores impõem, mas do que os autores conseguem.

Devo confessar que não falo por experiência directa. Há anos classifiquei esses programas na categoria de "lixo tóxico" e deixei de ver. Descobri, no entanto, que o poder da televisão se estende mesmo aos que a não vêem. Conversas de amigos e relatos de jornais fazem sentir a sua influência. Por isso sei que, mesmo ignorando nomes e desconhecendo pormenores, a descrição que se segue é justa e exacta.

Existem evidentemente rubricas e profissionais de qualidade. Mas no horário nobre, nos programas de grande audiência, dominam as opiniões idiotas, a brejeirice tonta, o disparate assumido, a gabarolice e vaidade, o sexo ou a simples alarvice. Novelas, concursos, shows e telejornais assumem que a imoralidade é popular, natural, recomendada. Adultério, aldrabice, fornicação, corrupção e malandragem são a dieta quotidiana da televisão.

Isto não é escolha do público, mas decisão dos canais. Claro que há gente que gosta de se espojar na lama, mas a maioria dos portugueses é composta de pessoas normais, que se sentem tentadas pelo prazer e elevadas pela sabedoria. A escolha está na televisão. A opção pela parvoíce, pornografia e aviltamento não vem do grande público, mas do pequeno produtor. A devassidão das séries juvenis não nasce de um deboche generalizado nas escolas nacionais, mas da depravação privada dos seus autores. Não é Portugal, mas o pequeno mundo da televisão, que faz germinar porcarias destas.

Outros países, e até o nosso às vezes, mostram bem como é pos- sível fazer programas populares de qualidade, como se pode ter, ao mesmo tempo, graça e interesse, sucesso e elevação. Mas, evidentemente, isso é impossível a autores sem valor, que se refugiam na asneira. O caso do humor é revelador. Perante uma sala, um comediante pode dizer uma piada inteligente e bem concebida, ou fazer uma alusão insultuosa ou obscena. Em ambos os casos ele arrancará, naturalmente, uma gargalhada. Se, por preguiça ou incapacidade, envereda pela facilidade, pensa "é mesmo disto que a malta gosta!".

À falta de talento junta-se, assim, o tradicional desprezo que as elites nacionais têm pelo povo. As televisões assumem que quem os vê é estúpido e bruto. Esse desdém pelo cliente sente-se, desde logo, no descuido com que os canais violam os seus próprios horários de programação. Mas o principal sinal está na opção arrogante pela indoutrinação da massa ignara. É curioso, mas triste, voltar a ver a atitude paternalista do salazarismo, agora com propósitos opostos.

Por exemplo, dizem-me que nestes meses vários concursos e novelas decidiram outorgar ao país um curso catequético completo sobre homossexualidade. Impondo os dogmas do género e elaborando as doutrinas da seita, querem apresentar essa visão como a única verdade aceitável. O pedantismo é o mesmo dos antigos programas do Movimento Nacional Feminino sobre lavores ou economia doméstica; a subtileza é igual à das Conversas em Família, de Marcelo Caetano. Só que sobre sodomia.

Que se pode dizer acerca disto? Que esta fase não vai durar muito. Num mundo aberto, o mau gosto raramente domina a totalidade. O deslumbramento libertário acabará por ceder ao enjoo, à reacção dos bons profissionais, à frescura da nova geração. Aliás, contando com a ajuda da tecnologia. A TV por cabo traz verdadeira liberdade e os programas aí têm de ser bons para segurar os subscritores. Com a penetração desta última, não tarda que os canais generalistas tenham de mudar. Senão passarão a meros canais temáticos da obscenidade.


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Bloco de Esquerda e a política dos fogos

Recebi esta prosa por e-mail, desconheço quem seja o autor.

Bloco de Esquerda e a política dos fogos


Medidas que, com toda a certeza, seriam subscritas pelo Bloco de Esquerda para acabar com
os incêndios:

1.
Despenalização imediata dos incêndios: até porque há tantos, não se conseguem evitar e nada será conseguido com a aplicação de medidas persecutórias e sancionatórias!

2.
Como os coitadinhos dos incendiários são doentes, socialmente marginalizados e, como todos os demais delinquentes, são vítimas indefesas e inocentes do capitalismo, por isso, devem ser tratados como tal: é preciso criar zonas específicas para poderem incendiar à vontade. Nas "Casas de Incêndio" serão fornecidos fósforos, isqueiros e alguma mata.

Sob a
supervisão do pessoal habilitado e pago com o dinheiro dos contribuintes, estas vítimas poderão lutar contra esse flagelo autodestrutivo pessoal.

3.
Fazer uma terapia baseada nos "Doze Passos", em que o doente possa evoluír do incêndio florestal à sardinhada. O pirómano irá deixando progressivamente o vício: da floresta à mata, da mata ao arbusto, do arbusto à fogueira, da fogueira à lareira, da lareira ao barbecue até finalmente chegar à sardinhada do Santo António e do São João.

4.
Quando o pirómano se sentir feliz a acender a vela perfumada em casa, ser-lhe-á dada
alta, iniciará a sua reintegração social e perderá o seu subsídio de incendiário, passando a auferir uma pensão a título de compensação pelo sofrimento de que foi vítima.

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03/10/2005

A vacina contra os incêndios ou o A4 aguenta tudo

Em relação às origens dos incêndios, já verti anteriormente uns caracteres. Vou agora debruçar-me sobre as formas de minorar as consequências.

Nunca em Portugal houve tanta floresta quanto hoje.

É sabido que, desde os descobrimentos, se operou uma razia tal à nossa floresta que só recentemente (últimas décadas) foi compensada.

A floresta de hoje não é igual à floresta anterior aos descobrimentos: é muito mais densa porque é maioritariamente composta por pinheiro e eucalipto.

A pinheiro e o eucalipto são excelentes combustíveis. Quando começam a arder, ninguém lhes pode fazer frente.

Há ainda áreas (ou havia, no Algarve) onde o sobreiro é dominante. Mas aí, a praga ecologista tratou de criar as condições que garantissem que o fogo se viesse a propagar de forma incontrolável: conseguiu obter legislação que proibisse não só a limpeza dos terrenos, como a limpeza dos matagais que sempre se formam nas margens dos cursos de água (por pequenos que sejam).

Os cursos de água progridem, naturalmente, nas zonas mais baixas do terreno. Conhecendo-se a facilidade com que um incêndio de propaga encosta acima, a presença de chamas nos matagais dos cursos de água garante a proliferação das chamas pelos vales, como um rastilho de pólvora, e a respectiva propagação às encostas, exactamente a forma pela qual mais eficientemente tudo arde.

Há-de sempre haver incêndios. É disparatado pensar que se pode, em absoluto, evitar o seu aparecimento. A única coisa que há a fazer é criar mecanismos para evitar que eles se tornem incontroláveis.

Não vale a pena gritar por helicópteros e por outros equipamentos, se, de cada vez que se acrescentem meios, se descurar, ainda mais, a organização da floresta. Os meios aumentam na proporção do caos florestal, e ficamos na mesma.

Parece óbvio a toda a gente, que algumas coisas relativamente simples baixariam drasticamente não o perigo de incêndio, como muitos erradamente afirmam, mas a perigosidade do incêndio.

O perigo de incêndio diz respeito à possibilidade, ou não, da sua eclosão. A perigosidade diz respeito às consequências caso o incêndio se instale.

O segundo pode fazer diminuir o primeiro: a redução substancial das consequências de um incêndio é um factor desmobilizante da mão criminosa.

Voltando à prevenção, e deixando de lado os meios, porque, suponho, já teremos, média geral, mais que suficiente (alugados ou não), há duas coisas que parecem óbvias: é preciso manter a floresta limpa, e é preciso dividir a floresta de forma que vastas áreas sem arvoredo permitam que um incêndio numa das zonas se extinga quase por si próprio, ou possa ser eficientemente combatido.

A limpeza da floresta é essencial para que seja possível atravessá-la, mas não chega. Ela arde na mesma.

A limpeza é necessária, por um lado porque há espécies que crescem espontaneamente, por outro porque as operações de abate deixam no terreno altíssimas quantidades de matéria combustível.

O problema é que a limpeza tem enormes custos que ninguém parece querer suportar.

Em tempos que já lá vão, os rebanhos tinham um papel preponderante nesta matéria. Já vi, perante meus olhos, zonas perfeitamente transitáveis sem qualquer manutenção aparente, tornarem-se impenetráveis matagais simplesmente porque o pastor lá da zona se reformou.

Surge então o papel do estado que, entre nós, legisla quase sempre para dar a impressão que o “preto no branco”, si por só, resolve alguma coisa. Os governos e a Assembleia da República ainda não legislaram no sentido da obrigatoriedade de chover nas datas adequadas, mas já faltou mais.

Como diz um homem que conheço, o A4 aguenta tudo, mas a realidade está-se nas tintas para o que lá coloquemos.

Só será possível conter os incêndios (evitar é outra coisa) se forem encontrados métodos baratos de manter as florestas limpas e se se encontrarem formas de compensar os agricultores que se vejam inibidos de plantar floresta nas suas propriedade em virtude da criação de zonas tampão desflorestadas. E esse esforço não pode ser só dos governos ou das autarquias: tem que ser de toda a população, ao nível das juntas de freguesia. De outra forma continuaremos a ver arder e a culpar os governos.

Repare-se que a generalidade da população rural nem sabe o que fazer em caso de incêndio. Não tem pás, máscaras, botas, coisas simples que lhes permitissem sequer fazer face a um peque o incêndio.

Na perspectiva em que as coisas se encontram, não é mau de todo que o território vá ardendo. Caso contrário, o volume e o caos florestal tomariam tais proporções que o primeiro incêndio reduziria a cinzas a totalidade do território nacional.

Enquanto não formos capazes de organizar a floresta (organizar-nos a nós próprios), resta-nos que as vastas áreas que vão ardendo sirvam de vacina para os próximos anos e permitam que as áreas já ardidas funcionem como tampão para os próximos fogos.

Quando não respeitamos a natureza, ela encontra os seus próprios caminhos, com ou sem a nossa colaboração – a nosso contento ou não.

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ECE – vamos a isso

Os bombeiros de Albufeira resolveram apelar a que se inclua no telemóvel um número de telefone com o nome ECE (Em Caso de Emergência) para onde eles possam ligar (consultando o telemóvel da vítima) para obterem informações sobre o acidentado e para, simultaneamente, avisarem a pessoa que a vítima indique como sendo a mais adequada para o efeito.

É uma boa ideia. Segundo a SIC, a ideia vem dos Estados Unidos onde o sistema está em uso.
Mais uma ideia que vem dos EUA, como a maioria delas. Umas más, outras boas.

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O Bloco de esquerda e a moral



No programa Parlamento (RTP2) de 2 de Outubro, Miguel Portas, do Bloco de Esquerda, defendeu que os trabalhadores alemães teriam sido enganados durante as negociações laborais por causa da construção do cabriolet da VW.

Segundo Miguel Portas, os custo de mão de obra dos trabalhadores portugueses teriam sido postos “em cima da mesa” como forma de obrigar os trabalhadores alemães a baixarem os seus proventos, numa altura em que em Portugal já se saberia que o carro nunca seria construído na Auto Europa.

Repare-se a conta em que Miguel Portas tem os sindicatos alemães. Em Portugal sabe-se que o carro não será cá construído, e os sindicalistas alemães andam distraídos. Se calhar não têm por hábito ler os jornais dos territórios onde estão instaladas as fábricas com que são ameaçados ...

Miguel Portas é, de longe, o bloquista mais equilibrado. Mas ...

Quanto a Ilda Figueiredo, do PCP, é um caso perdido.

Já agora, qualquer bom militante anti-globalização deveria congratular-se por não ter acontecido mais esta deslocalização: da Alemanha para Portugal. A não ser que as deslocalizações sejam boas quando se fazem para o nosso país, e más quando abandonam o nosso território. A não ser assim não se percebe porque sempre que uma empresa se deslocaliza para fora de Portugal os ditos bloquistas de indignam invocando questões de moral. A não ser que a morar deles seja a mesma de que acusam George Bush: quando ganhamos está tudo certo, quando perdemos, não está.

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Comparemos antes de escoicinhar


Não devo ter vasculhado o suficiente, mas não encontrei nenhuma outra comparação geográfica directa entre estado Norte Americano de Luisiana e Portugal.

Aqui fica a pequena contribuição, com algumas notas:

1 – A superfície do Luisiana é de 134,275 Km2, muito embora parte dela não seja terreno “fixe”.

2 – A superfície de Portugal é de 92,082 Km2, quase toda terreno fixe. Suponhamos, portanto, que têm superfície idêntica.

3 – As altitudes mínima e máxima do território do Luisiana são de –2.4 e 164m respectivamente. A média, é de 30m.

4 - As altitudes mínima e máxima do território de Portugal são de 0 e 1998m. Desconheço a média.

5 – No Luisiana há 3.200Km de diques para tentar controlar as cheias. Em Portugal quase não há diques desse tipo, os que há, ou já estão rotos ou em vias disso.

Imagine-se agora:

1 - O que aconteceria se o território nacional fosse atacado por um furacão como o Katrina, que o atravessasse longitudinalmente.

2 – Quais as possibilidades de sucesso na evacuação de todo o território. Neste caso não conviria que fosse para o mar. Sugestões?

3 - Imagine-se que uma quantidade de gente não queria, não podia, ou não conseguia sair de casa. Quem os iria obrigar a sair e porque meios os transportaria?

4 – É certo que o nosso país tem muito mais declive. Mas, se fosse idêntico ao Luisiana, como socorrer gente cercada de água dispersa por todo o país, e por que vias de comunicação (se a maior parte estivesse debaixo de água ou bloqueada por destroços)?

Se fôssemos atingidos por uma hecatombe daquele tipo, seriamos provavelmente ajudados pelos parceiros da Europa, mas é provável que a Espanha tivesse um papel determinante. Alguém tem a certeza que, perante a premente necessidade de ajuda espanhola, que se teria que manter por meses, não surgiria a ideia de os deixar ficar?

Eu espero que não. Talvez isso servisse para que passeássemos a respeitar mais os nossos dirigentes e estes se tornassem mais respeitáveis. Ou talvez não.

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A caixinha mágica e a caixa de fósforos

Durante o período em que estive afastado da web, assisti a um dos Prós e Contras na RTP1 que andava à volta dos incêndios.

Um dos temas em debate versava o facto de haver, ou não, uma ligação entre a exibição de imagens dos incêndios e a multiplicação de casos do fenómeno.

Basta ter conhecimento de que a Polícia Judiciária refere, com frequência, que a maioria dos incendiários identificáveis praticam os respectivos actos por razões fúteis, para perceber que é funesta a exibição de imagens apelativas.

Já sei que muitos me vão querer trinchar por dizer que as imagens são apelativas. Só refiro o facto de não conhecer ninguém que não goste de observar o crepitante fogo numa lareira. De facto são apelativas, e no caso dos incêndios são-no para quem nada perde, directamente, com eles.

Não me parece que a possibilidade de ver manobrar helicópteros não seja motivo suficiente para que muita gente ateie fogo sem ter a consciência do que está a fazer. Para provar a existência de muita inconsciência, basta dar uma volta pelas zonas onde o perigo resultante do aparecimento de um incêndio é maior, e observar a quantidade de pequenos fogos ateados para roçar mato, afastar as cobras, limpar matagais, queimar lixo, fazer churrascos, etc, e em que os respectivos promotores se mantêm junto ao fogo, aparentemente inconscientes de que a todo o momento se pode abrir a caixa de pandora. Este verão deambulei pelas albufeiras de várias barragens ladeadas de florestas e, à noite, viam-se claramente fogueiras nas margens.

Havia até casos em que parecia que os proprietários queimavam o mato rasteiro que separava suas casas da floresta, na tentativa de manter o terreno limpo e assim dificultarem a eventual progressão de um incêndio, que se acercasse, vindo do arvoredo. Suponho que a hipótese de o fogo se escapar para o arvoredo não lhes ocorresse.

Estou convencido de que muita cachopada (e adultos também, naturalmente), pela socapa, ateia fogos para ver bombeiros, helicópteros, câmaras de televisão, enfim, o movimento que nunca tem possibilidade de ver. Como se, tivesse encontrado uma forma de trazer para junto de si o bulício da civilização que uma parte substancial da população parece adorar.

Estou também convencido de que a vingança e a inveja são motivos mais que suficientes para que muitas pessoas risquem o fósforo, tanto mais que a possibilidade de sucesso em provocar um gigantesco incêndio, escolhendo um locar adequadamente ermo para o provocar, é inversamente proporcional à possibilidade de se vir a ser apanhado.

Justamente as televisões mantêm fresca, na cabeça dessas pessoas, a memória dessa possibilidade. Não só exibindo os efeitos, como relembrando que os fogos foram ateados em locais ermos, como quem diz: “é assim que se faz, estão a perceber?”. Aliás, não há bombeiro ou político que evite “explicar” que é assim que se faz a coisa.

A ladainha dos meios aéreos (“ganda pinta – helicópteros por todo o lado”) é vomitada recorrentemente a pretexto de serem muitos, ou poucos, ou terem chegado tarde, ou serem caros, ou nacionais, ou estrangeiros, grandes, pequenos, com asas, sem elas, etc, etc, mas sempre lembrando que eles não estão aí para outra coisa.

Já várias pessoas me disseram, cara a cara: “o mal é passarem helicópteros, até parece que são eles que pegam o fogo”. Parece-me razoável supor que a passagem de helicópteros é suficiente para relembrar aos “voluntários” que a caixa de fósforos resulta.

Voltando ao Prós e Contras, um dos convidados era o director de informação da RTP e outro um jornalista.

O primeiro tentava tapar o sol com a peneira explicando que os seus jornalistas tentavam evitar enquadramentos em que se vissem chamas por detrás dos repórteres.

O segundo era mais surreal.

Tentava ele defender que não havia estudos que comprovasses uma ligação entre a exibição de imagens e o aparecimento de incêndios ... Ficámos a saber que aquele ardina nos queria convencer que desconhecia a existência e os mecanismos pelos quais a publicidade actua ... Queria que acreditássemos que desconhecia a indução de desejo por exibição de imagens apelativas, qualidade que, aliás, nenhum dos presentes negava, muito embora preferissem o termo “dramáticas”.

Há, de facto, muita gente que “vive” dos incêndios. Alguns habitam a caixinha mágica.

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