30/06/2004

As Tias e a Esquerda

Não consigo perceber a esquerda em Portugal.

Com a história do Iraque só se falava do direito internacional (DI), O DI para aqui, o DI para ali, aqui-del-rei que estava a ser atropelado, rebéubéu. Parecem querer convencer-nos que o tal DI existe mesmo, como se não fosse uma colecção de declarações de boas intenções sedimentadas pela coisa que mais importa em política internacional - a existência ou não de precedentes. Evidentemente que há precedentes para tudo, e todos sabem disso, inclusivamente a esquerda.

A constituição diz que nós elegemos uma assembleia (da república) da qual sairá o governo.

Este governo pode ser coligado ou não. Desde que seja feita uma proposta que tenha o apoio de mais de 50% dos deputados (salvo erro que não se abstiverem), o governo 1º ministro pode ser nomeado e formará governo. Não interessa se se propõem coligados ou se se coligam depois. Todas estas variantes já aconteceram.

Alguns partidos fazem questão de apresentar os seus líderes, subentenda-se candidatos a 1º ministro, mas outros pouco o fazer ou não o fazem de todo.

Não interessa se os "boys" candidatos, são ou não candidatos a 1º ministro, porque se coligados à posteriori, mesmo um partido mais pequeno que não possa propor 1º ministro, pode muito bem vir a ficar com uma mão cheia de ministros, mesmo que com uma votação baixa.

O Partido Comunista (perdão CDU) gosta mais de dar força à CDU esbatendo protagonismos pessoais (o que me parece razoável, porque me parece fazer mais sentido votar em ideias que em fulanos).

O BE faz algo híbrido, fazendo de conta que propõem um ou dois gajos, mas depois vão aparecendo outros sentados no hemiciclo, não se sabendo bem de onde vão saindo.

Estes dois podia muito bem sair um dos "fulcrais" ministros, mesmo tendo em atenção o "esbatimento individual". No caso do BE pode dizer-se que, se lhes parece razoável fazer aparecer na assembleia gente que nunca foi eleita, deve parecer-lhes razoável que essas mesmas figuras sejam ministro. Se aparece gente em quem nunca se vota para um lugar de votação directa, porque não hão-de esses mesmos chegar a ministro para onde, de facto, nunca se vota directamente? Muitos ministros no passado nunca foram votados e todos acham normal ...

Resumindo, no que respeita a estes dois últimos partidos, todo está de acordo com a legalidade, muito embora Os Verdes nunca tenham ido a votos como tal ... e os "suplentes" do bloco de esquerda apareçam na assembleia como cogumelos sabe-se lá de onde.

Tudo isto é perfeitamente legal e os ditos CDU e BE não acham nada de politicamente errado nesta coisa.

O Barroso vai-se embora. Levanta-se a lebre com o sucessor.

De acordo com a constituição, terá que ser proposto novo primeiro ministro saído de uma maioria da assembleia. Formalmente tudo correcto.

É evidente que o Presidente da República terá uma última palavra, podendo mandar tudo às urtigas.

Continua tudo perfeitamente destro das normas, da legalidade, etc. As mesmas defendidas pela CDU e BE.

Eis senão quando .. pouca vergonha, porque politicamente incorrecto nomear um hipotético primeiro ministro não apresentado aos eleitores.

Nesta coisa, o PS, conscientemente entalado pelo passado recente, estrebucha o mínimo indispensável. Não se percebe porque vê a CDU e o BE um bicho de 7 cabeças politicamente incorrecto.

Do Santana Lopes não posso dizer grande coisa. Nunca o consegui vislumbrar, nem na TV. De cada vez que ele aparentemente surge no ecrã e alguém me chama disso a atenção, não vejo mais que uma colecção de tias que, mesmo não podendo a televisão "representar" cheiro, se perfumam com gás mostarda acompanhados de sons mais ou menos grotescos.

Que a direita tenha má qualidade, é lá com eles. Eles que se cuidem. Se a esquerda vai pelo mesmo caminho, é melhor que nos cuidemos nós.

Parece-me que, apesar de tudo, a esquerda está a dar demasiada importância aos SMS.

Não tivesse o João Soares entornado declarações (no debate com o Santana Lopes) que o remetiam para um ser acima de toda a suspeita, algo monárquico (que deve herda do pai), talvez os golpes baixos do tal sebastiânico Santana Lopes não tivessem surtido efeito.

Por mim há que pedir responsabilidades aos que, do meu lado dos óculos, borraram fora do penico. Quanto ao tal Santana, as tias que tratem dele.

Se o nosso trabalho não foi feito a tempo, nem sequer a más horas, há que gramar com ele.

Diz a maralha que, ou se f... ou se sai de cima.

O vosso trianchante amigo (?) ...

29/06/2004

A Europa, os americanos e Durão

Ainda não consegui perceber bem qual a prioridade de critérios de escolha de candidatos à presidência da comissão.

Uma das mais inquietantes suspeitas recai sobre a razão porque o Blair terá sido posto de parte - por não fazer parte de um país pertencente ao Euro ...

Não percebo sequer, se este teria, de facto, sido um critério.

Não terá, aparentemente, sido posto de parte por não ser respeitador do direito internacional (o Durão também não foi).

Ter sido posto de parte por questões relacionadas com o vil metal, parece coisa de americanos. Parece ser coisa que os europeus sempre puseram em terceiro plano, coisa que sempre têm orgulhosamente brandindo como sendo a "grande diferença" entre Europa (justa) e América (vilã).

Alguém me pode ajudar?

Há quem diga que a maior desgraça da intervenção americana no Iraque foi ter dividido o ocidente. Ainda não percebi como se oscila tão facilmente entre eleger como maior desgraça as vítimas inocentes iraquianas (vítimas dos americanos, porque dos árabes são abençoadas) ou a divisão do ocidente, em especial da Europa.

Cá por mim preocupar-me-ei mais pelas vítimas iraquianas, especialmente as inocentes (às mãos de quem quer que seja) do que com a divisão da Europa ou do ocidente. Acho aliás que essa divisão é benigna. Separa os vários tipos de águas, sendo que, para mim, o tipo mais importante são as salobras ... aquelas que se anunciam como puras.

E como explicar o apoio da Zapatero a Durão?

28/06/2004

A Europa, Zapatero, Mugabe e Bush

A Europa está tão sedenta de molhar a sopa no petróleo iraquiano que se dispõem a eleger o Durão para a comissão - só pode ser essa a razão, aos olhos da forma como os próprios europeus abordam, habitualmente, o assunto. Aznar já não está à vista e daria muito mais nas vistas.

E como está o Zapatero a digerir o supositório? Ele que dizia: Durão nunca, foi muito pró-guerra. O mesmo Zapatero que prometia deixar as tropas se a ONU aprovasse a coisa. Se calhar está a pagar a decisão.

Quando a franceses e alemães, propõem agora dar treino às futuras estruturas militares iraquianas, nos respectivos territórios (francês e alemão) ... para evitarem ser vistos como ... invasores. Auto-invadem-se de tropa estrangeira, portanto. Talvez se possa dizer que o Iraque vai, temporariamente, anexar a França e Alemanha. Suponho bem que os iraquianos não vão na conversa. Naquelas paragens só factura quem arrisca o pelo e franceses e alemães só arriscam o pelo ao sol das praias algarvias.

Voltando ao Barroso, estou para ver como vai ele descalçar a bota dos genocídios africanos deste ano. Será ele o negociador do silêncio multi-lateral?

Pela minha parte, bendita a belinha que fizesse a folha ao Mugabe. "Terra para todos" dizia ele. "Fome para todos" pode dizer-se agora. Pareceria mais justo se fosse "Terra para todos sem fome para todos". Mas isso não seria de esquerda.

Qual vai ser a reacção do Ferro? Vai seguir as pegadas do Durão, que concedia o mais alto crédito ao Vitorino?

Estamos a chegar ao ponto em que já não é preciso que os sinistros de hoje se tornem defuntos para serem as luminárias de amanhã.

A Europa é uma colecção de santidades. Venha Bush.