Francisco Louçã diz a Paulo Portas num debate televisivo:
"O Senhor não pode falar do direito à vida porque nunca gerou vida. Não sabe o que é gerar vida. Eu tenho uma filha. Eu sei o que é um sorriso de uma criança."
Por muito que exercite a minha memória, não me lembro de mais imbecil frase.
22/01/2005
19/01/2005
Quem não deve não teme
"Quem não deve não teme", disse Nuno Cardoso, antigo Presidente da Câmara Municipal do Porto, à saída das instalações da Polícia Judiciária, onde tinha estado a ser interrogado.
Esta mania que algumas figuras públicas têm de invocar a sabedoria popular é um bocado deslocada. O dito "quem não deve não teme" é altamente suspeito: porque não deve temer quem não deve? Não entra, ainda, este dito popular, em contradição com “tira o cavalo da chuva”, igualmente popular?
Por outro lado, porque não escolhe ele, por exemplo, “não há fumo sem fogo”? Sabedoria popular por sabedoria popular …
Se ele tivesse simplesmente dito “está um lindo dia”, teria feito mais sentido (não necessariamente para a comunicação social).
Esta mania que algumas figuras públicas têm de invocar a sabedoria popular é um bocado deslocada. O dito "quem não deve não teme" é altamente suspeito: porque não deve temer quem não deve? Não entra, ainda, este dito popular, em contradição com “tira o cavalo da chuva”, igualmente popular?
Por outro lado, porque não escolhe ele, por exemplo, “não há fumo sem fogo”? Sabedoria popular por sabedoria popular …
Se ele tivesse simplesmente dito “está um lindo dia”, teria feito mais sentido (não necessariamente para a comunicação social).
03/01/2005
O apelo ao enxovalho
A propósito de uma infeliz declaração de uma passageira entrevistada rumo à zona de catástrofe, no Índico, e o apelo ao enxovalho à senhora que circula pela Internet.
…
Em primeiro lugar é um bom exemplo de mau jornalismo.
Esse depoimento não devia ter chegado ao ar.
Duvido que a pessoa tenha tido consciência do que estava a dizer e o jornalista devia ter-se apercebido disso.
Apontar uma câmara para qualquer pessoa pode dar esse resultado. A pessoa sente-se compelida a dar um resposta qualquer e debitar a coisa mais impensável do mundo. A responsabilidade não é da pessoa, é do jornalista, em último caso da estação de televisão.
Este tipo de entrevistas não faz qualquer sentido. A única coisa que dali se pode concluir é a de, além existirem cidadãos capazes de fazer, perante as câmaras de TV, declarações de mau gosto, existirão ainda, hipoteticamente, pessoas incapazes de perceber que o sofrimento alheio não deve ser usado para próprio gáudio - outra razão alternativa para que o jornalista tivesse rejeitado o depoimento.
A mesma SIC, por via de uma jornalista sua, posteriormente, em reportagem de uma das ilhas do Índico, comentou, em tom de censura, que havia turistas a alugar barcos para admirarem a zona de desastre. Logo de seguida, a mesma jornalista, visitando ilhas destruídas mostra os estragos e os corpos (supõe-se que sem autorização dos respectivos familiares para os poder exibir). Não se tratará de produção do mesmo voyeurismo que ela censurava aos turistas?
Não parece haver qualquer diferença entre censurar a dita senhora e não censurar a exibição pública, pela TV, de cadáveres, e a produção de entrevistas a pessoas em estado de choque, ainda por cima, nalguns casos, a menores.
De acordo com os critérios com que o mail inicial apela ao enxovalhamento da senhora, parece razoável enxovalhar todos os que achem normal que as situações reportadas acima sejam aceitáveis – se calhar a maioria dos portugueses (também sou).
Aliás o próprio apelo ao enxovalho da senhora é, além de incitamento a uma forma de justiça popular (punível criminalmente), mais repelente que a infeliz declaração inicial. Trata-se de um apelo a uma forma de linchamento popular e à produção de julgamento e justiça sem direito a defesa. Um apelo pidesco.
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Em primeiro lugar é um bom exemplo de mau jornalismo.
Esse depoimento não devia ter chegado ao ar.
Duvido que a pessoa tenha tido consciência do que estava a dizer e o jornalista devia ter-se apercebido disso.
Apontar uma câmara para qualquer pessoa pode dar esse resultado. A pessoa sente-se compelida a dar um resposta qualquer e debitar a coisa mais impensável do mundo. A responsabilidade não é da pessoa, é do jornalista, em último caso da estação de televisão.
Este tipo de entrevistas não faz qualquer sentido. A única coisa que dali se pode concluir é a de, além existirem cidadãos capazes de fazer, perante as câmaras de TV, declarações de mau gosto, existirão ainda, hipoteticamente, pessoas incapazes de perceber que o sofrimento alheio não deve ser usado para próprio gáudio - outra razão alternativa para que o jornalista tivesse rejeitado o depoimento.
A mesma SIC, por via de uma jornalista sua, posteriormente, em reportagem de uma das ilhas do Índico, comentou, em tom de censura, que havia turistas a alugar barcos para admirarem a zona de desastre. Logo de seguida, a mesma jornalista, visitando ilhas destruídas mostra os estragos e os corpos (supõe-se que sem autorização dos respectivos familiares para os poder exibir). Não se tratará de produção do mesmo voyeurismo que ela censurava aos turistas?
Não parece haver qualquer diferença entre censurar a dita senhora e não censurar a exibição pública, pela TV, de cadáveres, e a produção de entrevistas a pessoas em estado de choque, ainda por cima, nalguns casos, a menores.
De acordo com os critérios com que o mail inicial apela ao enxovalhamento da senhora, parece razoável enxovalhar todos os que achem normal que as situações reportadas acima sejam aceitáveis – se calhar a maioria dos portugueses (também sou).
Aliás o próprio apelo ao enxovalho da senhora é, além de incitamento a uma forma de justiça popular (punível criminalmente), mais repelente que a infeliz declaração inicial. Trata-se de um apelo a uma forma de linchamento popular e à produção de julgamento e justiça sem direito a defesa. Um apelo pidesco.
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