05/01/2008

Das tripas das carraças

Este artigo de Paulo Tunhas parece explicar porque se pensa com as tripas.

Excertos:
"O poder do princípio da omnipotência do pensamento é de tal modo originário que sobrevive ainda fragmentariamente no coração da própria ciência, através da nossa confiança no poder do espírito humano que lida com as leis da realidade." - Freud

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Este tipo de atitude, [racismo altruísta] sob as vestes de uma louvável abertura ao outro, e de um saudável anti-racismo, representa, de facto, a mais sofisticada forma de racismo – uma espécie de racismo altruísta, se assim se pode dizer. Um racismo que discrimina o outro em função da sua radical singularidade, sendo a singularidade considerada em si, sem qualquer espécie de cláusulas, como um valor positivo. Essa singularidade é o avesso da nossa própria identidade culpada, e, no seu excesso, tão imaginária quanto esta. De facto, o outro é apresentado como estruturalmente passivo e radicalmente inocente, movendo-se apenas por reacção, e pecando, se é que se pode utilizar a palavra, por angélica ausência de responsabilidade. O que significa: um menor, uma criança. A partir deste momento, o diálogo torna-se impossível, porque este exige que se suponha actividade e responsabilidade ao parceiro de conversa, bem como uma vontade comum de chegar a acordo.

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Um manual de Cultura Islâmica produzido em 2003 pelo Ministério da Educação palestiniano (e financiado pela União Europeia) detalha entusiasticamente os vários tipos de jihad, explica os bons motivos para executar quem abandone o Islão – uma “rebelião contra a verdade e a lógica” – e combate a invasão intelectual ocidental dos países islâmicos . Os sermões de sexta-feira na televisão palestiniana vão – ou, pelo menos, iam, ao tempo do pouco saudoso Arafat - no mesmo sentido. E mesmo uma televisão árabe que (de acordo com a lenda) começou com um perfil mais ou menos liberal, como a Al-Jazira, rapidamente adoptou uma posição pró-terrorista.
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