06/04/2008

O Canivete

Este link, no Insurgente, lembrou-me que talvez até ao 4º ano (8º de hoje) andei sempre com um canivete no bolso.

Porque carga de água, perguntarão alguns. Porque, no campo (província), o canivete era uma ferramenta.

Andava com ele no bolso e não o trazia escondido. Estava colocado no porta chaves e usava-o nas aulas, por exemplo, para afiar lápis.

O canivete foi-se tornando maior à medida que fui crescendo e nem assim houve alarme.

A medida do retrocesso em insegurança é patente no alarme dado sempre que se detecta um aluno com um canivete.

Nos anos 60, um canivete era uma ferramenta e outra coisa não passava pela cabeça de nenhum de nós. Andei à porrada com muitos colegas, mas nunca puxei o canivete. Aliás, nunca um me foi puxado.

Com a "aceitação da diversidade" deixou de ser observada uma regra, não escrita, mas clara para todos: um canivete era uma ferramenta. Deixou de se usar canivete porque passou a aceitar-se que um canivete poderia não ser apenas uma ferramenta.

Os canivetes quase desapareceram, mas os que se usam têm uma utilização mais 'diversa'.

Também se brincava com pistolas de plástico, algumas em antimónio(?) sem que algum mal viesse ao mundo. Brincar com pistolas passou a ser coisa "feia" e as verdadeiras perigo real.

Rio de Mouro, onde passei alguns anos, era um local por onde se podia deambular a qualquer hora do dia ou de noite, sozinho ou com outras crianças, rapazes ou raparigas. Não me refiro à zona urbana propriamente dita. Aliás, a zona urbana era muitíssimo mais pequena. Falo em andar pelas matas da Rinchoa, pelo eucaliptal onde está hoje o acesso à IC-19. Mercês, Rio-de-Mouro velho, Mem Martins, eram locais que corríamos sem que alguma vez tivesse sentido ou me tivessem feito sentir qualquer problema de segurança. O único perigo que me apontavam, à altura, era o de me perder ou de encontrar algum cão perigoso (o que me obrigava a andar com um pau).

Na linha de Sintra, hoje, só de dia e acompanhado poderia andar. Brincar no mato?

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