04/08/2004

Flutuante crude

Dizia Arquimedes que uma coisa flutuava na água, ou não, em função de ter, ou não, uma densidade inferior à da água.

Por ser algo que muito apreciamos (ou devíamos apreciar) a água serviu como padrão para várias unidades. Uma delas foi a unidade de peso.

Um quilo não é mais que o peso de um volume de água com 10x10x10cm (o mesmo que 1dm3 e o mesmo que 1 litro).

Fazendo contas pode concluir-se que 1m3 de água pesa 1000Kg (1Ton) porque 1 m3 tem 1000 dm3 que pesam 1Kg cada.

Diz o jornal O Público na sua edição de 4 de Agosto,
http://jornal.publico.pt/publico/2004/08/04/LocalPorto/LP05CX01.html
na secção Loca Porto.

"Nada menos de trinta toneladas de crude (o equivalente a seis metros cúbicos) foram já retiradas da marina de Leça durante as operações de limpeza que se seguiram ao violento derrame de sábado passado."

Todos sabemos que o crude flutua na água. De outra forma nunca o crude derramado pelos petroleiros ficaria a flutuar.

Isso significa simplesmente que 1m3 de crude pesa menos do que 1m3 de água.

Diz O Público que 30t de crude equivaliam a 6m3.

Para o crude poder flutuar (e disso basta ver as imagens para ver que assim é), ou teria 30t e mais de 30m3, ou 6m3 e menos de 6t.

Daí se conclui que a notícia refere um tipo de crude especial que, apesar de ter uma densidade muito superior (5t/m3 - 5 vezes mais denso do que a água), consegue flutuar.

Se calhar qualquer coisa está errada. Que a um jornalista sejam dadas indicações erradas, não admira. O que é de estranhar é que coisa tão simples (matéria do ensino básico) passe despercebida e seja publicada.

A não ser que este crude, de tão espantosas características, flutue por inspiração divina.