05/10/2007

O “ensino da democracia”

O “ensino da democracia” tem sido um dos cavalos de batalha de um conjunto de mamíferos ligados à “educação”, seres que continuam em dificuldade para perceberem porque continua a generalidade dos alunos do básico e secundário a ignorar, mais ou menos paulatinamente, os “paradigmas” relacionados com a “cidadania”.

Qualquer alma que se preze percebe que o que está em causa é o ensino dos diversos tipos de regime político que já passaram pela superfície do terceiro planeta do sistema solar (a contar do sol para os que não saibam qual a temperatura de fusão da água).

Essa educação deveria supostamente ser dada pelas famílias e pela escola. As famílias estão mais preocupadas com as cretinices televisivas, a escola com as ideias que brotam dos cientologistas da educação que por lá pululam.

Face ao descalabro aparecem, de vez em quando, artistas imbuídos de uma crença meta-estável segundo a qual o mundo deveria ser como pensam propondo que a democracia deva ser “ensinada” aos alunos pelo método seringa-turbo.

O método seringa-turbo não é mais que uma variante de publicidade em doses de multinacional pretendendo impingir um qualquer novo tipo de cueca.

Porque não ensina a escola, como matéria a saber e sem a qual se chumba, as linhas pela qual se cosem a generalidade dos regimes?

Não cabe à escola defender causas. Cabe à escola ensinar do conteúdo das causas históricas e deixar que os alunos, anos mais tarde e já equipados com o discernimento que é de esperar, escolham o que muito bem entendam e à sua inteira responsabilidade.

Mas as tais luminárias não vão muito à bola em deixar que os alunos vão pensando pelas suas cabeças, tentando impingir a seringa-turbo em alternativa à seringa televisiva.

O problema com os regimes, como dizia, anda à volta do problema dos ideologicamente desempregados. Ensina-se o salazarismo (caso caseiro) com uma dose acrescida e conveniente de veneno e sem explicar a hecatombe que o precedeu, o nazismo pela mesma bitola, a democracia como a redenção dos nossos tempos, e aborda-se também o comunismo. Mas, neste último caso, foge-se sempre a explanar a dimensão do monstro deixando por um lado a ideia de que o mais cataclísmico foi o regime nazi, por outro escondendo-se que o comunismo foi, de longe, o regime responsável por um maior número de vítimas em execuções em massa de todos os tipos, tamanhos e feitios.

O que se pretende é apenas deixar ao socialismo uma porta aberta, evidenciando entretanto, as debilidades da democracia, entre as quais campeia a “impossibilidade de ser instituída pelo uso da força” (coisa que aconteceu em Portugal em 1974).

Entre outras debilidades apontadas figuram o florescimento de multinacionais, do capital descontrolado, do capitalismo “gerador de diferenças” mesmo que este tenha tirado e continue a tirar da fome dezenas de milhão de seres humanos.

A ‘mensagem’ é tentada fazer passar de várias formas: textos para análise não necessariamente sobre o seu sentido em disciplinas de línguas, ataques às linhas mestras da democracia e capitalismo em variadas disciplinas e de diversas formas, promoção de eventos ‘alternativos’ cujo conteúdo pinga um misto de anti-americanismo disfarçado em anti-imperialismo, propaganda “contra as guerras”, contra os “interesses das grandes corporações” sempre com um molho a condizer empestado em aquecimento global, protecção da natureza, “substancias naturais”, invariavelmente tentando rachar as petrolíferas mas esquecendo invariavelmente que elas produzem combustíveis não exactamente para uso próprio, etc, sem deixar passar em branco que a “Europa”, como os cientologistas da educação em coito com os eurocratas, será a solução para todos os males do mundo.

Enquadram-se neste cenário pejado de “ideais”, “utopias”, “amanhãs que cantam”, coisas como esta.

Seringa por seringa e com tanta cretinice à solta, continua a ser mais provável que a televisão seja a melhor.

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