22/05/2008

Chulos

Esta bela prosa resulta do ensino centrado nos interesses do aluno sem que as suas crenças sejam postas em causa. E esta prosa aponta para este discurso de José Soeiro.



José Soeiro, do Bloco de Esquerda, diz que o 25 de Abril foi feito para nos libertar do passado.

A razão por que foi feito, ou iniciado, não é de momento, para aqui chamada. Mas que havia esperança de que nos libertasse de algo, era verdade.

A primeira esperança do 25 de Abril, residia na libertação da obrigatória linha de pensamento, sob pena de se ficar ao alcance dos rapazes da rua António Maria Cardoso.

Do 25 de Abril podia esperar-se muita coisa, mas uma delas tinha a ver com a possibilidade de se exercer poder sob o próprio destino de cada um. Para os distraídos ou para os que nem assim querem perceber o que escrevo, esperava-se, pelo 25 de Abril, que cada um tivesse oportunidade de conquistar amor-próprio e de estabelecer independência económica que lhe permitisse estar ao razoável abrigo das vicissitudes da vida. Para o conseguir havia que dotar todo e qualquer cidadão da cultura necessária (sentido lato) que lhe permitisse servir a sociedade elevando o seu padrão de vida e, indirectamente, servir-se a si próprio.

Evidentemente que cada um é como cada qual e nem vou perder tempo a explicar que nem toda a gente tem capacidade intrínseca para conseguir elevar-se de forma a permitir-lhe viver sem ajuda alheia e que, neste caso, há que dar a mão ao infortúnio: a mãe natureza sabe bem ser filha da puta sempre que lhe apetece. O que é desnecessário é que filhos da puta queiram viver, como carraças, à custa da vítima.

Mas voltemos ao disparate segundo o qual o 25 de Abril teria sido feito para nos libertar do passado. A aceitar a tese do proponente, o 25 de Abril falhou e a prova está no bem vivo passado, encarnado em José Soeiro.

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José Soeiro faz-nos perder tempo enquanto debita bruxedos relativos às clemências e inclemências do passado e futuros, numa espécie de catarse em pimbalhada revolucionária.

Logo depois fala da “inversão da relação de forças entre capital e trabalho, a exigência de uma cidadania que era mais que um estatuto legal” ... “desobediência ao poder” ... “direitos civis políticos e sociais inseparáveis”.

Claro que nada fala de deveres. Deveres são coisas caducas, de antes do 25 de Abril. Fala de cidadania e diz que se desenvolve no quadro da desobediência ao poder do cidadão.

“Entre esses direitos, temos os serviços públicos”, tudo ferramentas de combate às injustiças. E continua sem falar de deveres e obrigações do cidadão para com esses serviços públicos.

“A escola tem sido um elemento central da crença no progresso” ... “com a generosidade dos pedagogos”.

Na cabeça de José Soeiro a escola está relacionada com crenças. Uma delas a do progresso. Segundo José Soeiro, o progresso será uma crença, não uma coisa alcançável e pela qual valha a pena trabalhar. Segundo Soeiro, o aluno não tem o dever de aproveitar a escola para que se alcance progresso. O aluno deve apenas acreditar que o progresso será alcançado, ponto final.

“os grandes pensadores progressistas consideraram sempre a escola como um elemento transformador das sociedades.”

Ora cá está o elemento “transformador”. A escola, para José Soeiro, não está ao serviço da sociedade, mas deve ser seu carrasco, sua “transformadora”. Evidentemente que a escola deverá “transformar” sob a batuta dos tais “pensadores progressistas” de que, evidentemente, José Soeiro é exemplo.

“O sentimento dominante em relação à escola de hoje é de incerteza”. Bom, há a certeza que cada dia é uma surpresa. É a escola desafio permanente à autoridade. A escola bagunça total, a escola pantanal.

“Não correspondeu a uma igualização das oportunidade sociais” ... Bom, mais à frente José Soeiro fala da geração dos 500 euros. Aí está, igualmente má para todos.

“A escola massificou-se sem se democratiza completamente” ... Pois, ainda não está completamente democratizada. Logo que José Soeiro consiga distribuir ao primeiro dia de aulas da vida de cada aluno, um canudo de Doutor, a democratização estará completa.

“Não resolvemos o problema do sucesso educativo para todos”. Mas está garantido o insucesso equalitário. Que mais quer José Soeiro?

“Não consegue romper o ciclo vicioso de pobreza porque não garante a todos as mesmas condições de sucesso.” Que tal ficaria se José Soeiro tivesse dito: ‘Não consegue romper o ciclo vicioso de pobreza porque garante a todos o mesmo sucesso - nenhum’.

“A escola exclui incluindo”. Esta fica para o padre Jeremiah Wright. Deve ser coisa de Bush.

“E num certo sentido a inclusão na escola deixou de fazer sentido porque é difícil perceber porque é que precisamos de lá estar”. Adoro esta coisa de “certo sentido”. Poderia ter dito ‘a diarreia ter uma certa textura’. Quanto ao resto, matem-se ao nível da bufa verde.

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“Temos, isso sim, falta de empregos qualificados “ ... “um modelo produtivo atrasado baseado na mão-de-obra barata”. É natural que avançadas mentalidades em desobdiência sirvam apenas para um sistema produtivo atrasado. Bom, não há empregos qualificados porque há falta de empregos em que se possa exercitar a desobediência ao poder. Mas a culpa é do capital.

“A geração dos 500 euros vive na corda bamba”. Já não é mau. Enquanto houver corda ...

“nenhuns direitos, nenhuma capacidade de projectar um futuro”. Quererá José Soeiro projectar o futuro para o passado? Dir-se-ia incapacidade em projectar o futuro é um desígnio de José Soeiro. Ao fim e ao cabo porque deverá haver projectos de futuro? Para usar como alvo de desfio ao poder?

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O Bloco de Esquerda não passa de uma associação de proxenetas. O bloco de Esquerda pretende apenas garantir a existência de putas para as poder explorar ao seu serviço. Sem incluídos em ignorância, sem burros, sem idiotas, sem alternativos à força, sem diversidades sintetizadas, sem excluídos forçados ou por absoluta “democratização” do ensino, o Bloco de esquerda fica ao livre arbítrio das putas libertadas pelo 25 de Abril.

Há uns quantos palermas que percebendo isso, se aprontam a aprender o discurso das vacas loucas esperando passar de potenciais idiotas a chulos na rua de S. Bento.

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