09/03/2007

Ainda bem que há alunos, Chiça!



Parece que o Chico Inteligente na Educação Cor-de-Rosa desconhece a relatividade da lei da gravidade: o habitual.

Parece que se preocupa com a falta de capacidade que o professor possa ter em reconhecer a mestria com que o aluno, potencial fonte de inspiração ideológica, será capaz de o formar (ao professor, tá bom de ver).

Exercitando: Ó stôr, Camões? no Big Brother tipo assim também falam uns com os outros. Isso é tudo relativo. Antes de haver Camões as pessoas já comiam, dormiam e f..... (*)

A função da escola não é abalar as "crenças". Pois não. Aliás, quanto mais imbecis as "crenças" forem mais demonstram a capacidade criativa do aluno rumo ao absurdo. Yes!!

Ainda bem que há alunos, chiça!

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Outras crenças a apoiar (aceitam-se sugestões):

1 - Hitler não era assim como o stôr o pinta
2 - Estaline matou a mãe e mais uns quantos milhões, mas ela embirrava com ele e com aquela idade ela já devia tar quieta.
3 - A Terra é redonda? Desde quando?
4 - A água líquida não tem nada a ver com o gelo. Olha olha!
5 - Não se diz prontos? Porquê? Isso é que era bom. O stôr diz que a língua evolui, a gente tamos assim tipo a fazer com que ela evolua.

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... Nada de abalar estas crenças. Não se esqueçam, não é essa a função do professor.

... E diz, o Inteligente, que acabaram as canções.

(*) Preocupação ideológica transcendental.

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Actualização (2)


Baldassare contrapôs:
O problema aqui é que a teoria da relatividade de tudo é sustentável e sustentada por muitas pessoas.

Não se trata de uma teoria absurda. Trata-se sim de uma teoria que, simplesmente, não é a sua, o que não lhe dá o direito, como professor, de não a respeitar.

No máximo, o que poderia fazer, era tentar explicar ao aluno a sua teoria.

O mais engraçado é que depois vai para o Blasfémias gabar-se da sua mestria em abalar convicções "imbecis" dos alunos.

Em democracia os alunos - até os alunos!- têm direito de opinião e de a sua opinião ser respeitada.
Eu nunca neguei que tudo seja relativo. Portanto o "problema" que refere é mais uma "relatividade" à sua maneira.

Não diga que disse o que eu nunca disse. Aliás, comecei a minha resposta ao seu artigo declarando que o Baldassare não conhece a relatividade da lei da gravidade. Se procurar saber porque não tem Marte atmosfera logo descobre a sua pólvora.

Que a 'coisa ser relativa' está por tudo o lado é o mesmo que dizer que de vez em quando chove. Desde Heisenberg que a ciência embutiu, nas suas ferramentas, a incerteza. O que o Baldassare não percebe (ainda, mas haja esperança que, se abandonar a sua postura de referencial absoluto em termos de crenças, venha a perceber) é que tudo é relativo mas há gradações de probabilidade.

Entrar pelas referidas gradações é como entrar num campo de minas, mas a vida é tão somente isso (metaforicamente falando, não vá dar-se o caso de o Baldassare não perceber).

De facto, aprender é, entre outras coisas (como, simplesmente, decorar dados) dominar tanto quanto possível, directa ou indirectamente, o contexto e a probabilidade de se ter como certo aquilo que se diz.

Em boa verdade, quem defende frequentemente que tudo é relativo, a única coisa que demonstra é que encontrou uma forma de nada querer saber, defender, ou discutir. Tudo é possível, portanto, qualquer argumento vale apenas como forma de gastar tinta (se calhar nem isso).

A teoria de que tudo é relativo não é minha nem de ninguém. Essa suposta teoria é trazida a lume simplesmente para acentuar que parece que todas as teorias têm excepções, até a da gravidade. Às vezes não são excepções, mas parecem, pelo menos, sê-lo.

Mais absurdo que pretender que exista a teoria de que tudo é relativo, é pretender que haja uma outra que afirma que a primeira teoria é falsa (que o BB"a possibilidade de um vaso com flores subir em vez de cair de uma varanda existia. Muito improvável, mas existia (e existe)")o argumento estupidificante de que, se o relativismo se aplica às culturas e aos valores, também se aplica à lei da gravidade". Ou seja, o Baldassare declara que defende o que diz que eu defendo (não defendo) e que eu estou errado. Quer maior absurdo?

Sim, determinadas convicções dos alunos são erradas, por muito que lhe custe que assim seja. Os alunos são alunos, têm pouco voto na matéria. Não sabem. Por isso são alunos. Vão para a escola com as convicções típicas de uma criança, a maioria delas erradas (o que é natural). O que não é natural é que, anos mais tarde, não só essas convicções erradas se mantenham como aumentem. Nessa altura tornam-se convicções imbecis.

A mania, (como outras) que se instalou no sistema, de deixar passar em branco que apesar de tudo ser relativo, algumas coisas são-no menos que outras (algumas são, no respectivo contexto, absolutas) radica na demissão galopante do sistema de ensino em cumprir a sua missão: ensinar. A partir de determinada altura, tem-se vindo a tornar mais e mais aceitável que tudo se possa afirmar, em último caso que as galinhas têm dentes. Mas uma coisa é que que vai na cabeça de cada um, outra é a realidade.

Em democracia, os alunos - até os alunos - têm direito de opinião e de ser respeitado o facto de a terem, não a opinião propriamente dita (a não ser quando ela faça sentido). Não é respeitável que um aluno defenda que as galinhas têm dentes.

Quando um aluno defende o disparate é obrigação do professor (contra a vontade do respectivo ministério) deixar claro que a "crença" não tem pés nem cabeça e que é imbecil insistir nela.

O Baldassare não gosta que eu usa a palavra imbecil. Problema seu. Para seu(?) conforto, não a uso na aula. Mas não estou na aula e, neste contexto, prefiro chamar os bois pelos nomes. Na sala de aula, a vida é mais complexa - está-se num campo minado. E quem lá tem colocado as minas? O Ministério da "Educação". Os alunos regozija-se com elas, nas "crença" de que, com elas, se "safarão". Os alunos sentem-se imbecilmente felizes, o ministério obtém a sua masturbação mental.

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"A teoria de que tudo é relativo não é minha nem de ninguém."
Pois a sua já vi que não é... agora que "não é a de ninguém"??? então, é impressão minha ou o seu comment no Blasfémias era precisamente num post que abordava a polémica do relativismo. Se bem se lembra, o nome do post no blasfémias era "O relativismo favorece o erro intelectual". Esse post atacava a posição de daniel oliveira e da suposta "extrema esquerda" nessa matéria.
Tá bem, mas continuamos na mesma. Quem é o autor da afirmação de que “tudo é relativo”? Não me diga que acha que é o Daniel Oliveira.
Foi nesse contexto que surgiu o seu comentário e foi nesse contexto que eu o critiquei. Não estava na sala de aulas (esse campo minado...) quando você disse isso ao seu aluno.
Isso o quê? Que o vaso lhe cairia da mona? E, continuamos na mesma, critica porquê? Continua a defender que não devo abalar a crença do aluno?

E que estivesse na sala. Fiz a minha obrigação dizendo aos alunos que as galinhas não tinham dentes, por muito orgulho que eles tivessem nessa teoria, e por muito orgulho que tivessem por ela ser ouvida.
Pareceu-me incorreto a maneira de abordar a crença "imbecil" do aluno .
Um problema seu. Eu não chamei nem imbecil ao aluno nem imbecil à ideia. Mas na internet era o que faltava se ainda estivesse preso pelas grilhetas do politicamente correcto. A ideia em causa (na sala de aula) era imbecil e o aluno estava a fazer figura de tal.

É que, meu caro, quando se defendem coisas estúpidas, passa-se por estúpido, etc, etc.
"A partir de determinada altura, tem-se vindo a tornar mais e mais aceitável que tudo se possa afirmar"
É claro que tudo se pode afirmar! Estamos, meu caro, em Democracia, em Liberdade de expressão. TUDO SE PODE AFIRMAR. E um professor pode refutar uma afirmação do aluno, mas tem de, de alguma maneira respeitar o aluno, e nisto penso que estamos de acordo.
Ah bom. Já é uma cedência sua. Afinal pode refutar. E a tal crença, não vai sair melindrada?

Qualquer um é livre de fazer figura de parvo. O que não é razoável é que tenha orgulho nisso. Parece hoje suficiente dizer-se algo para que se sinta o égo afagado, independentemente de se fazer sentido ou não.

Já agora, olhe que nem tudo se pode afirmar. Experimente dizer que vai matar um colega.

Já sei, já sei. Não era nesse contexto que dizia que tudo se pode afirmar. Mas está a ver onde se pode chegar se a coisa não for tida em conta no contexto? Lá está, tudo é relativo, mas há gradações e, aqui é que a porta torce o rabo.
Quanto à questão de fundo, nem tudo é relativo e nem tudo é absoluto, mas se alguém defender que tudo é absoluto ou que tudo é relativo, tem esse direito.
Neste caso, quem teve uma "postura de referencial absoluto em termos de crenças" foi você!"
Claro que tem esse direito. E as restantes pessoas têm o direito de pensar que essa pessoa é parva. Se lho disserem, estão a fazer-lhe um serviço. E se não lho disserem que pensará você dessas pessoas? Parece-lhe razoável que se fechem em copas?

Nunca ouvia A dizer para B “estás a ser parvo”?

Você é que disse ao seu aluno que a sua crença, e só a sua crença, era plausível, ou melhor, não era imbecil."
Você volta a pôr palavras na minha boca.

Eu não disse que só a minha crença era plausível. Ele é que, como você (hipoteticamente), perante a percepção que a história inicial era um disparate pegado (já não me lembro qual era) percebeu que tinha feito figura de parvo. E eu ralado. Aliás, de cada vez que um aluno percebe que está a fazer figura de parvo eu acho que estou a conseguir cumprir a minha missão.

Evidentemente que há milhões de assuntos bem mais viscosos e que não cabem nesta discussão.

Agora, digo e repito, que me parece ser a minha missão (my job, diriam os americanos) fazer perceber ao aluno que está errado. Mas também afirmo que o professor, regra geral (e eu também, por frequentemente), se coíbe de chamar a atenção ao aluno de que defende coisas absolutamente disparatadas.

E ainda há pior. E quando o professor tem que dar matéria que sabe ser absolutamente disparatada? Como faz? Com essa, até se me viram as tripas.

Há professores que, em privado, não dizem que dão aulas. Dizem que as vendem. Porque será?

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Actualização 3
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A Escola centrada no aluno? "Disparate! Tretas!", diz você.
Nunca disse tal coisa, como acima demonstrei.
Mas repare: uma educação com foco no aluno, seria uma Educação em que se adapta o que se ensina e como se ensina ao ponto mais individual possível. Seria uma educação que iniciava desde cedo a educação para a cidadania e para a democracia, dando mais liberdade ao aluno. E claro, se se dá mais liberdade, os alunos têm de ser responsabilizados pelos seus actos. Uma escola baseada no aluno seria uma escola onde, naturalmente, os professores tinham mais autoridade (e menos "poder" absoluto).
Mais palavreado politicamente correcto. O que você propõe é uma colecção de absurdos. No limite, você corre o risco de acabar propondo que os alunos só aprendam o que lhes apetecer.

Você continua engasgado com a questão do poder. É um problema que você terá que resolver com a sua cabeça.
Só se nos focarmos no receptor da mensagem é que podemos fazer com que o conhecimento lá chegue melhor.
Você, mais acima, escreveu: “... ignorando os interesses, deveres e direitos de alunos e professores, desde que a mensagem seja bem dada.

Não lhe parece estar a dar uma no cravo e outra na ferradura? E você continua a esquecer-se dos deveres de todos. A responsabilidade de cada um.

E qual é o papel do aluno? Mero microfone desligado? Experimente escrever a coisa de outra forma: “Só quando o aluno se focar na mensagem que lhe é transmitida poderá chegar ao conhecimento”.

Está a ver? Você continua na senda da desresponsabilização do aluno.

Você, em boa verdade, é que centra a coisa no papel do professor. Então e o aluno não é gente? Não assume as suas responsabilidades (tento em atenção as respectivas idades, já se vê)? Nunca mais assume a sua responsabilidade? Nunca mais se percebe que se tem, paulatina e sistematicamente, vindo a desresponsabilizar o aluno de todo o processo? E como quer você, por essa via, que ele chegue à lenga-lenga da cidadania?

Volto à história dos 3 pilares: Professor, matéria, aluno. O que você defende é um ensino (?) centrado num aluno voluntariamente amorfo. Depois claro: as cabeças de abóbora são cada vez mais.
Os professores são, a meu ver, um elemento importante no Ensino, mas não são "O Elemento" mais importante do Ensino. A qualidade da mensagem não deveria nunca depender do professor ser bom ou não... nem sequer o professor deve ser um exemplo a seguir pelo aluno(porque nesse caso, há professores que sinceramente...)
O professor deve ser um elemento de ligação entre o programa e o aluno e mais nada.
Isso que você descreve é um computador, não é um professor.
A desierarquização da Escola seria fundamental para que se estabelecesse uma nova relação professor/aluno, mais mutualista e mais propiciadora a um ambiente de trabalho, não de guerrilha.
Não há nova relação a estabelecer, como não há nova roda a inventar. E o ambiente de guerrilha não é gerado por aqueles que você próprio defende deverem ser corridos da sala de aula?
Mas eu percebo a sua teoria. Também é válida.
Depois do que você escreveu, essa frase é um mistério.
Aliás é a que predomina na opinião pública e no ministério, sobretudo com esta conversa velho-do-restelista da desautorização dos professores e do fim dos "bons costumes"...
É bom costume ir-se à escola. Quer abdicar? Se tudo o que se deve aprender é coisa do velho do Restelo, porque aprendeu você a falar e a escrever? E a comer? E a andar?
Contudo, e como já disse, acho que a Escola do século XXI devia ser uma escola mais democrática e mais aberta, ou se quiser, mais politicamente correcta.
O politicamente correcto é puro lixo.

A escola deve ser mais aberta a quem estiver disposto a assumir as suas responsabilidades. E quem não estiver, só tem dois caminhos: ou aprende “seringado” ou terá que saltar fora da carroça.

Você acha que alguém trabalharia se não tivesse que ser? Se não houvesse algum tipo de ameaça/consequência implícita? Em que nuvem vive você?

O que você descreve em relação aos direitos, direitos, direitos, é o parasita.

Quem foi que lhe meteu na cabeça que aprender era assim como quem apanha banhos de sol?

Você vê o aluno como o “coisa” que veio ao mundo, obrigado (não veio de livre vontade), e a quem depois, ainda por cima, querem obrigar a aprender.

O que você procura é um computador, a que você se ligue, e que lhe transfira as matérias para o cérebro.

Meu caro. Se você ainda não percebeu que aprender dá trabalho, é difícil, requer insistência, dedicação de muito tempo (pouca borga), etc, você foi entregue ao planeta errado, na galáxia errada, no universo errado. Mas isso, mais uma vez, é um problema que você terá que resolver consigo próprio: não espete com o seu problema aos costados dos outros. Assuma-o porque, vir ao mundo (a este), implica isso.

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