02/07/2007

Novas oportunidades?

Acerca do programa Novas Oportunidades, escreve um leitor do Abrupto:
Tenho pouco conhecimento da fora como está a funcionar este programa, mas a observação sociológica do leitor José Carlos Santos, apesar de não (me) surpreender, devia ser motivo de reflexão. Aqui está outro exemplo do mesmo tipo: como deve saber, os exames ad-hoc para entrada no Ensino Superior foram extintos, pois (e estes foram os únicos motivos que ouvi serem frequentemente apontados) "reprovavam muita gente" e "aumentavam o insucesso e o desânimo" (posteriormente, ouvi insinuações de fraude, mas nenhuma prova); na minha experiência (e possivelmente também na sua), os alunos que tive e que entraram via exame ad-hoc foram , no geral, bons; na maior parte dos casos, destacaram-se da média dos outros que entraram pela via regular. Nada disto é surpreendente: quem tem a inteligência e auto-disciplina para se preparar sózinho para um exame, terá boas possibilidades de sucesso depois de entrar; e isto é ainda mais verdade em sítios (a utilização deste termo é intencional) onde o aluno médio é mediocre, se não mesmo mau (como acontece onde trabalho).

Agora, no lugar do exame ad-hoc, temos os +23, uma alteração com implicações na qualidade do nosso Ensino Superior que nunca foram cabalmente analisadas. Os únicos motivos apresentados foram economicistas e de feitura de estatísticas: se não entrassem mais, metade do ensino superior em Portugal, em especial o Politécnico, fechava e, além disso, assim temos mais gente "qualificada", um adjectivo que, cada dia que passa, se afasta mais do "competente".

Um resultado imediato desta alteração, foi a admissão de muitos candidatos que não têm qualquer preparação para fazer um curso superior e, se juntarmos a isto as pressões que os docentes que estão em situação precária sofrem para aprovar o maior número possível, o resultado inevitável é um abaixamento de nível sem precedentes.

Mas, voltando à observação, uma coisa é verdade: é, em geral, nos mais velhos que ainda existe alguma vontade de aprender e trabalhar, em vez de tentar explorar as vulnerabilidades dos docentes na expectativa de os intimidar. São também eles que dão os exemplos de boa educação e civilidade. O ambiente em algumas turmas nocturnas ainda recorda as aulas clássicas, o que já não acontece com os mais novos.

Talvez a nossa sobrevivência futura dependesse de uma reflexão e de acções resultantes, sobre o nosso rumo, mas não me parece que as nossas élites, políticas e outras, estejam à altura.

(João C. Soares)
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