Abreviando pormenores, estando por acaso numa organização que produzia muito lixo em papel, perguntei a um funcionário da Câmara de Lisboa se seria possível dispor-se de diferentes recipientes de forma a que se pudesse separar o lixo em tipos (que a câmara recolheria já separados, evidentemente).
O fulano respondeu que não, que isso estava a acabar porque tinha havido um nível muito grande de contaminação nas separações que as pessoas faziam.
Perguntei-lhe pormenores e ele explicou que apesar das pessoas separarem lixo, havia ainda muitas misturas, o que tornava inútil toda a operação.
A coisa soou-me mal mas não pensei muito mais no assunto.
Meses depois fico a saber que a generalidade do lixo citadino é queimado na Valorsul (nem imagino a qualtidade de CO2 assim produzido), numa operação quem em termos de novilingua se chama "valorização energética". Mas fico a saber mais. Fico a saber que a Valorsul tem tido cada vez mais dificuldade em queimar o lixo porque a combustão tende a não se conseguir manter a ela própra por falta, na mistura, ... de papel e cartão!
E fico ainda a saber mais. Fico a saber que para resolver o problema a Valorsul, empresa estatal (mesmo que pelas intrincadas teias de aranha da legislação), pondera resolver o problema adicionando combustíveis fosseis à mistura a incinerar, mesmo que, para o efeito, o contribuinte tenha que vir a pagar uma taxa(*) ...
Moral?
Chateia-se toda a gente para separar papel sendo evidente que, para evitar libertação de CO2, o papel deveria ser enterrado o mais fundo possível. O lixo deixa de arder por falta de papel e queima-se combustível fóssil para resolver o problema.
Confuso? Não perca as cenas dos próximos episódios.
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(*) Imposto
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