29/09/2007

Sem sublinhados

Este texto, (recolhido no blog Portugal e outras Touradas, via De Rerum Natura, via comentário da Abobrinha a um post de Ludwig Kripphal, no Que Treta! - [não atinei com os restantes links]) sabe-me a alface sem tempero.

De facto de há muitos anos que me habituei a morfar muita coisa com pouco ou nenhum tempero, mas a alface, como o café e o açúcar, continua a desafiar-me. Sem azeite e vinagre não a trago. Algum gene malvado me martela o miolo quando o tento fazer. Quanto ao sal, passo bem sem ele.

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As duas seguintes frazes terão exactamente o mesmo significado, mas a segunda é proscrita pelos cientologistas da educação.

1 - O professor ensina o aluno.

2 - O aluno aprende o que o professor ensina.

Em boa verdade também a palavra 'ensinar' é proscrita pelos cientólogos. Preferem educar. Em boa verdade sem conseguirem ensinar nunca educarão, mas como cientologistas que são nunca perceberão a diferença. Coisas de tólogo.

Para os cientologistas o aluno é apenas uma mercadoria à volta da qual tudo gira. Como quem fabrica pneus, alcatifa ou corta-unhas de qualidade que permitam que melhor se retirem macacos do nariz. O 'produto' é a coisa à volta da qual tudo gira.

Na "educação" o aluno é a mercadoria à volta da qual tudo gira. Anos a fio "centraram" a educação "nos interesses do aluno" e/ou "no aluno". Nunca o fizeram em função do aluno como pessoa, apenas como mercadoria.

Os cientologistas invocam a "educação para a cidadania" como prova de que pensam no aluno como pessoa e cidadão, mas apenas pelo vector de cidadania pelo qual os cientologistas a entendem. Tudo o que vá por fora da invocada seta se torna "susceptível" do aríete da "mudança de mentalidade".

Vai daí que os problemas do ensino passem sempre pelos métodos, pelos "conteúdos dos manuais" (nunca pela matéria contida nos livros), pelos processos de avaliação, pelos critérios de avaliação, etc, etc, enfim, tudo feito na melhor intenção face a educação centrada na mercadoria: o aluno.

Em tudo isto está implícito que que os cientologistas encaram o aluno como uma mercadoria, algo sem vontade própria. Em todo este drama o aluno é a mercadoria cuja inaceitação pelo mercado só pode ser fruto do mau processo de produção.

Os cientologistas não sabem, mas no mundo real os alunos pensam e reagem em função do ambiente no qual andam, e a pintura do ambiente tem, por todo o lado, grafitis dizendo: o aluno é rei e senhor, é vitima de um sistema perverso que não prepara para a vida e, como vítima, o aluno tem toda a autoridade para se vitimizar e exigir aquilo a que tem direito: viver feliz independentemente de quem seja (se habitar uma zona "difícil" tanto melhor) e/ou do que saiba.

O solipsismo em que nadam os cientologistas da educação não lhes permite, sequer por excepção e em bom português, encostar os alunos à parede, ou, em português assim assim, entregá-los à sua própria responsabilidade.

No mundo real, aquele em que quem não trabalha não come, a única ferramenta capaz de convencer os renitentes a aprenderem são as leis do próprio mundo real.

No mundo real quem não faz o que se espera dele sofre as consequências. No mundo da "educação", quem sofre as consequências da forma como o aluno se conduz (para não dizer deambula) pela escola é o professor, a escola, os "conteúdos", a sociedade, mas nunca o aluno, mercadoria intocável.

Para os cientologistas da educação o aluno não tem vontade e a que terá só poderá ser resultante dos paradigmas gerados pela máquina produtiva e que é suposto perceberem: os alunos são sempre vítimas, vítimas, vítimas. Os alunos são sempre vítimas, mas nunca são vítimas da cientologia em causa porque essa é inspirada no paradigma da 'melhor intenção do mundo'.

Com ou sem paradigmas, façam eles ou não sentido, enquanto não se chumbar (reter, dirão os ciento-palermoides) quem não aprende (parem de falar em educação), está-se condenado a rever os processos, os "conteúdos", etc, etc.

No mundo real quem não trabalha não come. Na escola real, quem não aprender não pode passar (transitar, chamam-lhe os idiotas). Sejam poucos ou muitos.

Ah, já me esquecia. A ser assim, que papel é reservado aos cientologistas da educação? O papel higiénico.

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PS. Não falei no papel da família porque os cientologistas acham que a sua existência é um incómodo. Algo que atrapalha. Na melhor das hipóteses algo susceptível de uma mudança de mentalidades usando, como arma de arremesso, o produto educado.

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