08/06/2007

Cá se fazem cá se pagam



“Cá se fazem, cá se pagam”, diz o povo.

Há tempo, num blog aqui ao lado perguntava-se se a auto-discriminação era resultante de masoquismo.

Eu respondo que não, que a maioria das vezes é resultante da penhora do futuro por benesses imediatas.

Ligado ao ensino, vejamos três casos, micro, médio e macro, que têm resultado em discriminação.

Durante o tempo da Mocidade Portuguesa, os professores eram bem considerados. Respeitados, eram tidos, na sociedade, como referência (houve, evidentemente, excepções, mas era esta a generalidade).

Depois do 25 de Abril essa respeitabilidade continuou. Quando da primeira greve de professores, lembro-me que as pessoas se interrogavam: ”se até os professores fazem greve, o caso deve ser sério”.

Passando ao lado da bagunça imediata ao 25 de Abril, anos passados começou a sentir-se o cancro das “ciências da educação”.

Os professores foram deixando de serem professores e passaram a “agentes educativos”, “facilitadores de comunicação”, “facilitadores de aprendizagem” e outras barbaridades equivalentes.

Como explicado aqui, foi-se, na verdade, escaqueirando a escola e substituindo-a por uma instituição entorpecente onde o aluno, à volta da vontade do qual tudo gira, é mantido como um fardo de palha: sem se lhe pedir mais do que ele é capaz de dar espontaneamente. Quando sair da escola e lhe forem cortados os arames não servirá de mais que de alimento a burros – carne para indústria de salários baixos e baixa qualificação.

O mundo do aluno contemporâneo é do tamanho de uma ervilha. Eles são todos “especialistas” em informática, mas a informática deles é uma bosta. A maioria sai do 12º sem ser capaz de usar espontaneamente funções de Excel – que, como apenas uma aplicação, nem sequer permite por ela que se “perceba de informática”.

Voltando ao professor, ele é responsável pelo presente estado de coisas pelo menos na medida em que nunca foi capaz de perceber que a cada novo “paradigma” aceite punha em causa a sua respeitabilidade. O professor foi abandonando rapidamente a sua costela de intelectual e foi aceitando o crachat de “facilitador” de todo o tipo de disparate. Em muitos casos pela máxima do “amanhã cantante” (logro), noutros pela cenoura salarial - ganho a curto prazo. Esta, em momentos críticos, foi usada para comprar a aceitação ao jogo, num cenário em que dominavam sindicatos globalmente controlados (democraticamente, pois claro) pelos Cro Magnons da “esquerda”. Em qualquer dos casos uma escola “mais ligada à sociedade”(?) segurava a minhoca no anzol do facilitismo, o tal que, a curto prazo, dá menos trabalho.

O tempo foi passando e os resultados são patentes: um professor é hoje uma “coisa” cuja missão, mais ou menos indefinida, passa, sabe-se lá como, por ser responsável por que os alunos sejam capazes de acabar (?) a escola e arranjar emprego bem remunerado (não necessariamente trabalho!).

Tudo deixou de andar à volta do professor, fonte de conhecimento, para passar a andar à volta do aluno, fonte de desconhecimento e palermice. O desconhecimento passou de pura burrice a fonte inesgotável de “perplexidades”, empalmadas por “manuais” em vez de livros.

De referência de sociedade o professor passou a algo a quem qualquer papá imbecil dá porrada quando a sua imbecil criança lhe diz que o professor lhe “comunicou” que não podia cagar na sala de aula (“comunicou” entre aspas, porque os professores já não falam – comunicam apenas).

Excluindo-se implicitamente, o professor (e por maioria de responsabilidade a corja de imbecis “cientistas de educação” que pululam pelo Ministério da Educação) vai formando gente inútil (futuros excluídos) que tem vindo a relegar Portugal para o grupo dos países apalermados.

Pode resumir-se a coisa dizendo que a incapacidade (até por vontade própria) em neutralizar um bando de energúmenos “cientistas de educação” colocou os professores na posição de excluídos do papel que lhes compete, responsabilizados, ainda por cima, pela não ”educação” dos bandos de inúteis que, de ano para ano e em cada vez maior número, vão sendo despejados no mercado de trabalho em empresas que terão que concorrer com países onde a sacrossanta ciência não deu ainda os mesmos “frutos”. Esta incapacidade em ombrear com as pessoas de países de economia livre, onde se aprende mais, leva o país à posição de excluído da orquestra mundial de países desenvolvidos.

Nesta bostas por onde moscas vão passando, coisas como esta são apenas mais um tentáculo do cancro.

Claro que os idiotas úteis locais culpam os países evoluídos de tudo quanto nos acontece, em especial pela nossa ignorância e ineficiência, embora seja evidente que não são esses países a ditar os “conteúdos” imbecis e imbecilizantes com que os nossos “facilitadores” vão tristemente mantendo lavado o cérebro de quem entra na escola. Pode dizer-se que as “ciências da educação” vierem dos Estados Unidos, mas é da nossa única e exclusiva responsabilidade alinhar em idiotices.

Parece, entretanto, que as mesmas ciências vão campeando, mais aqui menos ali, a generalidade da Europa. Enfim, não é por ser moda que a cretinice generalizada produz prémios Nobel – os Estados Unidos ficam com os Nobel, nós, (Portugal e Europa) com os idiotas.

Por esta via a Europa vai-se “afirmando” (de forma bastante generalizada) como uma “potência” em insipiência. A Europa já só é capaz de riscar sentença nos pseudo órgãos de informação de consumo interno: a exclusão da Europa na cena mundial é patente – há que agradar a pacóvios cuja escola lhes deixou a tripa cageira directamente ligada ao cérebro.

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A triste figura que vamos fazendo constitui a maior derrota do 25 de Abril face à máxima Salazarista: “pobrezinhos mas limpinhos”, ou, burros mas orgulhosos, com muita fé e muitas crenças.

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