E se o professor não deu a matéria?
Pergunta da Semana: "Se o professor não deu a matéria (toda), como é que os alunos vão a exame? O que é que se faz?"
Resposta do meu co-blogger Ctrl.Alt.Del.: "O professor não dá matéria, segundo o ME é um "facilitador de aprendizagens" e um "criador de situações de aprendizagem"; assim, se há matéria que o aluno não aprendeu, o problema é, obviamente, dele ;-)"
A culpa não é, obviamente, do aluno. A culpa é, obviamente, do professor que não deu a matéria.
Mas essa não era a minha questão. A minha questão é "se o professor não deu matéria, o que é que fazem os alunos?". Não podem fazer nada. Nem os que estiveram nas aulas. Eu, a esta pergunta, queria respostas, não ironias...
Sinceramente não sei. Pode um aluno ser prejudicado pela incompetência de outra pessoa? Não, certamente. Como resolver este impasse? A pergunta da Semana mantem-se.
P.S.: O professor dá matéria. É um facilitador de aprendizagens, é um criador de situações de aprendizagem, é um estimulador do pensamento, mas tem de dar matéria.
Eis um excelente exemplo dos resultados do ensino centrado no aluno:
1 – O aluno incapaz de perceber que vive em sociedade e que, por essa via, e como membro (caloiro que seja) dessa sociedade, era suposto ter tido uma quota parte da responsabilidade na sua própria aprendizagem (a maior parte do esforço, para ser mais concreto). Para ele o problema está sempre fora. O facto dele não perceber que, no processo, deveria ter tido uma quota parte de responsabilidade, demonstra que o sistema foi incapaz de lhe dizer que parte dessa responsabilidade (de aprender, custe o que lhe custar, com ou sem professor, o que tiver que ser) lhe estava sobre os ombros. Não disse, aliás, porque o sistema acha que o aluno nunca é responsável por coisa alguma porque, simplesmente, é referencial absoluto.
2 – Para ele, culpa, responsabilidade, problema, é tudo a mesma coisa, sempre dos outros – de fora.
3 – A questão que acabou de equacionar nunca é a que acabou de equacionar mas a que acabou de equacionar. Quando lhe explicam porque o que afirma é um disparate, responde sempre que nunca a explicação se encaixa no que diz afirmar. Apesar disso usa a explicação como trampolim para voltar ao disparate inicial.
4 – O egocêntrico que supõe ser o timoneiro de um mundo-ervilha. Qualquer criança é egocêntrica até perceber que é membro de uma sociedade. Este egocentrismo é suposto desaparecer, o mais tardar, ao entrar a primária. Aqui ele mantém-se. Mantém-se, e é cultivado para se manter assim. Aliás, o grande timoneiro do mundo ervilha é o centro do sistema.
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Numa palavra, alunos que reclamam dos maus resultados de uma coisa que dizem defender, sendo incapaz de perceber que essa reclamação é exactamente resultante do falhanço das “suas” ideias (que não são deles, lhes foram impingidas). Não percebem que são filhos do sistema e que pensam como ele.
São incapazes de perceber que viver em sociedade implica vantagens e desvantagens: entre as vantagens, a de se ser frequentemente ajudado pela sociedade, entre as desvantagens, a de se ser frequentemente travado por ela. Ao fim e ao cabo, são incapazes de perceber que viver em sociedade tem muito mais vantagens que desvantagens.
Todos devem fazer tudo face aos problemas deles, nunca eles pode fazer algo por si próprios. Vêem-se como produtos em prateleiras de supermercado.
Gostam que os tragam às costas, mas ou outros pesam-lhes muito.
Quando gozam das vantagens que a sociedade lhes permite, gozam de direitos inalienáveis, conquistados, adquiridos, garantidos, imutáveis, absolutos. Quando sobre eles recaem efeitos secundários, coitados: são vítimas.
Enfim. Face ao descalabro só resta dizer-lhes: desenrasquem-se (para não dizer que vão para o raio que os parta). Nunca perceberam nem perceberão que, independentemente dos erros que os outros tenham cometido sobre eles, é a eles que cabe, em primeiro lugar, dar passos para os resolver. Mas eles não percebem porquê, porque, para cada um deles, a sociedade é propriedade deles – como no mundo dos tiranos.
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