24/06/2007

Ensino a videovigilância

Não pode passar ao lado o anúncio da instalação de videovigilância dentro das escolas – nos recintos externos (por enquanto).

Escusado será dizer que a medida torna incontornável a tomada de consciência de que as anteriores medidas para manter e recuperar a disciplina falharam mais uma vez.

E falharam porquê?

Eu gosto de explicar coisas simples com explicações simples. Parece-me um absurdo recorrer a tiradas elaboradas para explicar o óbvio, muito embora, alguns campeões do absurdo a isso possam obrigar.

Imaginemos que dois alunos, de 14 anos, desatam à porrada. Que é suposto acontecer? É suposto acontecer que qualquer funcionário ou professor que depare na cena se interponha para acabar a bulha.

Que acontece na prática? Todos evitam o risco de se encontrarem perante a necessidade de intervir, evitando zonas onde potenciais problemas possam ocorrer: professores e funcionários afastam-se dos recreios, mantêm-se em locais mais recatados ou em zonas mais sossegadas.

Caso o não consigam, assobiam para o lado.

Porquê? Porque frequentemente só é possível parar a violência usando de alguma, e isso é proibido. Os alunos sabem isso e ...

Como se consegue evitar que um aluno que insiste em pontapear tudo e todos possa ser travado sem lhe torcer um braço ou provocar alguma dor de alguma forma? Chama-se a polícia? Diz-se-lhe, simplesmente, "isso é feio"? Se o aluno for pequeno a coisa é mais fácil por razões óbvias. Mas, sendo maior, como é? Gás mostarda? Aliás, gás mostarda também já circula, aqui e ali, entre alunos.

Como forma de se armarem em gente mais papista que o Papa, há professores e funcionários que acusam colegas de usarem violência em excesso, e há conselhos directivos que encontram um nicho para exercício de poder salazarista ameaçando, mais ou menos veladamente, quem tenha tido a ousadia de fazer o que todos deveriam fazer.

Claro que a porrada se vai generalizando, sabendo-se (quem quiser saber) que até já há preocupantes sinais de tentativa de violação dentro das escolas.

...

Pois aí teremos a videovigilância.

Alguma da violência que a medida pretenderá evitar, transferir-se-á para a sala de aula. Dentro de pouco tempo haverá câmaras na aula. Aliás, pelos corredores, muitos professores dizem que gostariam de ter as aulas gravadas.

!!! E dizem, ainda, alguns inteligentes que a violência não se está a generalizar!!! Serão bons assobiadores?

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