24/05/2007

BULLYING - Mais um interesse do aluno



Tropecei, na SIC, há poucos minutos, com este assunto, já aliás tratado aqui.

Em duas penadas, um aluno, gravemente doente, é tratado da seguinte forma pelos colegas:
Chamam-lhe "surdo" [berrando aos ouvidos dele], por ter perdido parte da audição com os tratamentos [médicos]. Chamam-lhe "porco", por não usar o balneário. Um dia, um dos rapazes apanhou-o no corredor e "obrigou" outro a puxar-lhe as calças, enquanto lhe chamava "aquilo que é o contrário de gostar de mulheres". Já lhe aconteceu encontrar a mochila "cheia de ranho"...
A coisa acontece porque os habituais cabeças de abóbora, deixados crescer som o chapéu dos mais sagrados "interesses do aluno", resolveram aplicar-lhe as mais sofisticadas e intelectualmente avançadas técnicas de bullying.

Entretanto, pela parte do aparelho "educativo", a resposta não se faz esperar [os bolds são meus].
O presidente [do Conselho "Educativo"], Laureano Valente, [...] considera que "a mudança de turma, no momento actual, é um cenário a excluir, por razões de ordem pedagógica". A mudança dever-se-á fazer no início do próximo ano lectivo, com cuidado, para que nada se repita.
Pois evidentemente. É pedagogicamente incorrecto não dar oportunidade ao aluno doente de apreciar o excelente desempenho em bullying com que os seus colegas o presenteiam.

Cenários:

1 - Se o aluno fosse transferido para outra turma, o mesmo cenário teria ali lugar.

2 - Se o transferissem de turma ele continuaria a receber idêntico tratamento, entretanto também já praticado na nova turma. Talvez não haja, na escola turma sem bullying.

3 - Talvez, quem sabe, a nova turma resolvesse defender o colega dos selvagens da outra. Mas nessa altura iria haver pancadaria espalhada, coisa que, é evidente, a escola seria impotente para controlar. Se não controla a porrada numa turma, como a controlaria entre turmas?

Uma coisa é evidente. Os supremos "educadores" sabem que são incapazes de controlar a selvajaria. Mas acoitam-na.
No início, eram apenas três miúdas bem conhecedoras da sua história clínica. Para se proteger, Miguel deixou de sair da sala de aula nos intervalos. O professor avisou os pais. Eles sugeriram logo uma mudança de turma, mas o professor desaconselhou tal acto. Era uma turma "muito competitiva", era "bom para ele" estar ali.
"Turma muito competitiva". Pois então. Já se percebeu que a escola não está a fazer o seu melhor (no "interesse dos alunos", evidentemente), ou já teria distribuído navalhas para que a competição pudesse ser elevada ao zenite. YES!

Na mesma reportagem da SIC, uma entrevistada, refere a necessidade de (algo parecido com) "educar os colegas do aluno doente no sentido da diferença".

Não se percebe porque acha ela essa necessidade. Que o aluno doente é diferente já os colegas perceberam e por isso lhe aplicam o seu mais precioso carinho: bullying.

Será que ninguém é capaz de explicar aos alunos que se estão a portar como bestas? Já sei. Pela novilíngua, política e pedagogicamente correcta, diz-se apenas: "isso é feio".

E respectivos papás? Pai de besta, que será?

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