23/05/2007

A minha Teoria dos Nichos

Há uns 3 anos, espicaçado por um amigo, resolvi verter uns quantos caracteres desenvolvendo aquilo que me atrevi então a chamar "a minha teoria dos nichos".

Suponho que esta minha teoria (?) já tenha sido inventada, reinventada e esquecida. De qualquer forma, tal como gosto de gelados sabendo que me fazem mal, mordisco novamente a coisa.

Acontecimentos recentes levaram-me a procurar os kilobytes então alocados no disco, ajeitar a prosa e ...

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Fora do nível de tudo quanto é o micro (fora do átomo e para conjuntos de muitos ziliões deles), a natureza funciona, sabe-se lá porquê, por nichos.

Cada ambiente criado propicia ser ocupado por uma criatura apropriada - por uma que mais rapidamente se adapte de forma a tirar partido do novo ambiente. Tirar partido, em proveito próprio, evidentemente.

A criatura que mais rapidamente se adaptar fica, regra geral, em vantagem perante eventuais novos pretendentes ao seu novo nicho.

Os nichos podem ser ocupados por mais que uma espécie. Se as espécies não forem “incompatíveis” (uma delas, ou ambas, puderem comer a outra) elas podem ocupar o mesmo.

Se as espécies forem incompatíveis, a que servir de potencial alimento terá que correr mais que a outra.

Há um outro tipo de nicho em espécies onde há uma hierarquia de clã. Nesse caso cada animal ocupa o seu nicho dentro do clã, e o clã ocupa o nicho territorial. Tanto num caso como noutro, haverá lugar à luta pela manutenção do clã ou pela conquista de um melhor.

Enfim, há toda um leque de possibilidades, mas, pelo grosso, a coisa anda pelas linhas anteriores.

Se por alguma razão em especial, for criado um nicho completamente novo, pode acontecer duas coisas: ou há bicho que, nos arredores, tenha propriedades que lhe permitam com uma adaptação mínima ocupa-lo e dele tirar partido ocupe, ou não há.

No caso de não haver, poderá ser por dois motivos: ou não há de todo, ou há mas a grande distância. No segundo caso poderá ser uma questão de tempo até que, por razões mais ou menos bizarras, o bicho lá possa chegar. É o caso, por exemplo, dos gatos que, tendo sido deixados pelo bicho homem em Madagáscar dizimaram a maioria da bichesa caminhante.

No caso em que não haja de todo, pode demorar muito mais tempo até que a mãe natureza “congemine” algo que acabe por se lhe adaptar.

Em ambos os casos, o timming de resolução do problema está ligado à teoria do caos. Há que ter em atenção que, na natureza, a escala do tempo pouco tem a ver com a escala do tempo humano.

Pelo exposto acima, parece inevitável que, mais tarde ou mais cedo, tirando partido do novo nicho de dimensão planetária (via linhas aéreas e comércio) constituído pelo não isolamento de populações e pelos maus tratos à ecologia, incluindo maus tratos ao caminho que mãe natureza desenhou para a cadeia alimentar, venha a surgir um novo “animal” que o venha a ocupar tirando partido da inexistência de inimigos naturais (vírus, por exemplo).

Naturalmente que o bicho homem continua convencido que será possível, via ciência, fazer frente a esse “bicho”, mas a verdade é que tal não parece plausível e a prova está nos arrepios que todos sentimos quando do aparecimento da história das vacas locas, do vírus das galinhas, do vírus que assolou algumas zonas da China, felizmente controlado – mas por uma unha negra - até ver.

É de prever que, mais tarde ou mais cedo, um vírus ataque toda a humanidade e dizime a maioria da população mundial, será uma questão de tempo. Os sinais já foram dados, e o passado é, a esse respeito, bem esclarecedor. A ciência evoluiu, livrando-nos de algumas doenças tenebrosas, ou permitindo-nos fazer-lhes frente, mas o perigo potencial aumentou (novo e gigante nicho) e novas doenças podem dele tirar partido.

De facto, parece-me que a extensão de toda a cadeia alimentar tanto humana como dos animais de que os humanos se alimentam, se tornou tão abrangente, interdependente e fluida, que se comporta como uma autêntica auto-estrada e, simultaneamente, um gigantesco novo nicho.

Suponho que não será difícil perceber que o mesmo se esteja a passar com as sociedades e em relação aos comportamentos de grupos ou indivíduos. O aparecimento de outro tipo de comunidade pode dar origem ao aparecimento de grupos que dela tirem partido como os parasitas o fazem.

Deslocamentos de vastos grupos populacionais ou alterações rápidas e substanciais do seu modo de vida desenraízam e tornam obsoletos formas de viver que já tinham encontrado antídotos para os comportamentos desviantes (individuais ou de grupo). Naturalmente aparecerão ninhos que, mais tarde ou mais cedo acabam por ser ocupados por alguém. Será apenas uma gestão de tempo.

Quanto mais rapidamente crescer esse novo nicho, mais eficazmente e eficientemente aprecem formas de vida mais ou menos parasíticas.

Sociedades mais conscientes do problema podem começar a trabalhar mais cedo para calafetar a ocupação do novo nicho e evitar o aparecimento da praga social, pelo menos com intensidade capaz de gerar sérias consequências. Sociedades menos conscientes são presa fácil destes comportamentos.

Gangs, hooligans, serial killers, traficantes de droga, seitas religiosas, crime organizado, extremismo ou praticantes individuais de violência gratuita são exemplos de indivíduos que, adaptando-se rapidamente ao nicho, poderão tirar partido dele. As consequências podem ir do roubo por esticão a um indivíduo à usurpação de uma nação inteira tornando-a um estádio-pária, ou estado-personalidade.

Parece ainda razoável pensar que nichos de comportamento humano desviante não sejam unicamente dominados por gente identificada com comportamentos mais ou menos claros de delito comum. Um exemplo deste caso parece-me ser o caso do eduquês, que tem dominado toda a máquina de ensino, resultando não apenas na estupidificação generalizada dos alunos, mas numa cada vez maior necessidade de pessoal para gerir o disparate, naturalmente constituído em nicho tentacular para fornecimento de “jobs for the boys”. Neste caso, uma cáfila de espertalhões, apercebendo-se da incapacidade da sociedade para pôr travão ao alastrar do cancro – viabilidade de um novo nicho - vai abrindo espaço, vai vivendo à sua custa e vai perpetuando as condições para o tornar cada vez mais omnipresente.

Neste último caso, se não houver oposição, o cancro alastra até rebentar como rebentam os esquemas piramidais de ‘captação’ de dinheiro. Se houver oposição mas não for decisiva, estabelece o equilíbrio que permitirá manter o monstro a níveis que a sociedade vá podendo pagar. Alternativamente, pode estoirar subitamente se o dano causado puser em perigo a vida do animal.

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