É apenas um dos delírios que nos empestam e que deve ter as suas raízes numa fé qualquer.
Via O Insurgente
O ALEGADO JORNALISMO.
Alberto Gonçalves
No Verão de 2005, Israel desmantelou os colonatos da Faixa de Gaza, abandonando o território à flexível jurisdição palestiniana. Desde então, Gaza tem sido principalmente utilizada pelo Hamas para lançar morteiros sobre as cidades "sionistas" limítrofes, em parte graças ao fluxo de armas e terroristas vindos da fronteira franca com o Egipto. De vez em quando, israelitas civis morrem. De vez em quando, Israel reage e bombardeia os carros ou as residências de alguns ilustres do Hamas. Em simultâneo, apoia, militar e financeiramente, a Fatah nas rituais matanças entre palestinianos. Por motivos discutíveis e discutidos, o Governo de Olmert convenceu-se de que a Fatah constitui uma espécie de aliado, embora nada permita reconhecer-lhe força ou vontade para tal. Em simultâneo, a fronteira de Gaza com o Egipto permanece aberta à circulação de "jihadistas" sedentos de martírio, próprio ou alheio. Receoso dos efeitos de uma invasão de Gaza na "opinião pública", Olmert limita-se a eliminar a ocasional luminária do Hamas e a esperar que a coisa acalme. A coisa não promete acalmar.
Resumidíssimos, eis os factos, de resto comprováveis. Mas não com facilidade. Quem, por exemplo, acompanhou os últimos dias no Médio Oriente pelos "telejornais" ou por certa imprensa, ficou apenas convicto do seguinte: a chatice que decorre no Líbano não envolve directamente Israel, portanto, não dá drama; dramática é a situação em Gaza; em Gaza, Israel estourou com uma casa repleta de civis, tanto mais inocentes quanto o "alegado" psicopata do Hamas que, por mera coincidência, habitava a dita, não estava lá dentro no instante fatal; Israel assassinou "alegados" membros do Hamas; Israel prendeu "políticos" do Hamas; Israel rejeitou "tréguas"; Israel matou e esfolou; as acções de Israel são injustificáveis, visto que o Hamas vai enviando uns engenhos "artesanais" que, no fundo, nem ambicionam magoar ninguém. Como sempre, os israelitas são deliberadamente cruéis. Como sempre, os palestinianos são "resistentes", "activistas", "insurgentes", "militantes", "combatentes". Enfim, fazem pela vida, coitados.
Podemos atribuir esta peculiar visão à má-fé. A má-fé não explica tudo. Claro, qualquer sujeito que queira saber sabe o que se esconde (se se esconde) por detrás do "jornalismo de referência" da BBC ou da Reuters. E a retórica enviesada de certa imprensa indígena só engana criaturas particularmente impressionáveis. O problema é que, inclusive na classe jornalística, as criaturas impressionáveis abundam: basta ver os pivots dos nossos noticiários televisivos repetirem os delírios acima com candura. Ali não há vestígios de uma "agenda" oculta ou de preconceito ideológico: repetem-se os delírios porque os delírios ascenderam ao cânone.
Ainda existe disponibilidade para conceder um mínimo de compaixão face ao "judeu errante", em fuga cinematográfica dos pogroms ou nos transportes para Auschwitz. Mas, passem os séculos e as tragédias que passarem, na Europa quase ninguém aceita graciosamente que os judeus tenham pátria e poder. E muito menos que tenham razão.