De cada vez que, nos Estados Unidos, tem lugar um homicídio mais ou menos espampanante, logo a comunicação social lhe aplica a carimbadela de "resultante da disseminação de armamento pela acção de poderosos lobis armamentistas americanos em função dos seus interesses económicos".
Trata-se, evidentemente, de uma das várias carimbadelas típicas de que a maioria dos jornalistas se socorre sempre que acontece algo com características bem definidas.
Neste caso as características são:
1 - assassinato algo bizarro
2 - Estados Unidos
Outro caso típico:
1 – avanço científico
2 – aplicável no campo da medicina
3 – de difícil compreensão por jornalistas (imenso campo)
Neste último caso a carimbadela típica será: "capaz de vir a revelar-se de interesse fulcral na procura da cura do cancro".
Voltando ao caso inicial, é obvio que a disseminação de armamento ligeiro tem um peso irrelevante do orçamento dos fabricantes de armamento. Mais ainda, muito armamento disseminado nos Estados Unidos não é de lá originário.
O que interessa (que tem real peso) aos fabricantes de armamento é a venda de sistemas de armamento sofisticado (carros de combate, sistemas electrónicos de todos os tipos, sistemas de mísseis, de comunicações, aviões, etc). Mas a facilidade com que o carimbo pode ser usado sobrepõe-se aos factos.
Em Portugal tiveram recentemente lugar vários crimes violentos, alguns contra as autoridades policiais, perpetrados por pessoas aparentemente organizadas em gangs, que recorriam a quantidades substanciais de armamento.
Não se tendo verificado a característica 2 do primeiro exemplo dado, não foi declarado que o sucedido foi "resultante da disseminação de armamento pela acção de poderosos lobis armamentistas americanos em função dos seus interesses económicos".