12/04/2005

O crédito ao descrédito

Vi, parcialmente, o programa Clube de Jornalistas de 11 de Abril.

A determinado momento, alguém chamou a atenção de que, durante as guerra no Iraque, os meios de comunicação social ocidentais divulgaram informação de fontes diversas, mas maioritariamente ocidentais. Que não mais (salvo erro) de 17% das fontes eram árabes e de que, entre as árabes, a Al Jazeera ocupava a parte de leão. O general Loureiro dos Santos chamou então a atenção de que, nos países árabes, esse desequilíbrio era total, porque a informação veiculada pelos meios de comunicação social ocidentais não passava, de todo, nas cadeias de informação locais.

O que podia ter sido salientado pelos jornalistas presentes, supostamente pouco dados a pactuar com propaganda desmascarando-a (parece-me que Loureiro dos Santos o quiz fazer sub-entender), foi que, pelo facto das cadeias árabes ignorarem a informação ocidental se descredibilizavam automaticamente dando razões ao pouco espaço reservado nas cadeias ocidentais à informação por aquelas veiculada.

É difícil não considerar como propaganda a informação proveniente de uma cadeia de informação que ignora por completo, nos territórios onde actua, a informação das cadeias das restantes áreas do globo.

A não ser que se diga que a informação da Al Jazeera era 100% verdadeira. Também a votação iraquiana em Sadam Hussein era de 100% e pelas nossas paragens, aqueles que se incomodaram com os valores de votação no Iraque parecem ter ficado agora mais agastados do que no tempo dos 100%.

Tem uma suprema graça reclamar-se da pouca inclusão nos canais ocidentais de “informação alternativa” proveniente de locais onde não há alternativa à informação aí gerada.

É fundamental que essa “informação alternativa” seja difundida no ocidente, mas há que não esquecer que ela vale o que vale: pouco. Há ainda que não esquecer que a informação, no ocidente, globalmente falando, não vale muito mais, mas, apesar de tudo, vale mais.