19/06/2005

Ana Gomes - Conselho de Segurança III e referendo francês: «Ignore Germany. Affirm EU»



Diz Ana Gomes (a azul):
Se os actuais líderes políticos europeus ainda liderassem alguma coisa, deveriam, face à adversidade dos resultados do referendo francês (e possivelmente do holandês), estar agora a esforçar as meninges congeminando medidas que transmitissem rapidamente ao resto do mundo e a todos os cidadãos europeus (franceses incluídos) sinais políticos claros de que há Europa para além do referendo em França (e Holanda)
Pois podia. Mas como se conseguiria isso se se andou a dizer (Ana Gomes inclusive) que sem o avanço rumo a uma Europa política (sim ao referendo) não poderia haver Europa?
Deviam estar a preparar-se para fazer a UE avançar, mesmo sem a Constituição ratificada pelos restantes países (mas no sentido que a Constituição prevê). Para fazer a Europa intervir mais decisivamente no controlo da globalização.
O que Ana Gomes defende, é que nas próximas legislativas, caso os resultados iniciais indiquem uma derrota do partido no governo, se suspenda a contagem da votação, se queimem os votos e se permita que o governo continue em exercício prosseguindo a política que vinha exercendo. Mais salazarista não pode ser.

A Ana Gomes está obcecada pelo controlo da globalização. Suponho que ande a ler demasiada ficção científica e se passou para aquelas paragens.
No final de contas, não foi essa a poderosíssima mensagem que os eleitores franceses quiseram passar à liderança política europeia? que a Europa não pode continuar a ver passar os tsunamis das deslocalizações selvagens, sem mexer um dedo para regular a globalização?
… e ela a dar-lhe …
Não se trata de enfrentar a globalização numa perspectiva defensiva, nacionalista e proteccionista, como sugeriu a propaganda xenófoba e amedrontante dos defensores do NÃO em Franca. Mas de agir no quadro da Estratégia de Lisboa, apostando na competitividade e crescimento da economia europeia e na projecção mundial de uma Política Externa e de Segurança Comum (política comercial e política de ajuda ao desenvolvimento incluídas) realmente coerente e eficaz, todos os azimutes.
Gambuzinos, gambuzinos, gambuzinos …
Isso deveria traduzir-se em decisões ousadas no próximo Conselho Europeu de Junho. Por exemplo,
1- antecipar a entrada em vigor da previsão do Tratado Constitucional de conferir personalidade jurídica à União Europeia;
2- acelerar a constituição do Serviço de Acção Externa ? o serviço diplomático comum que deverá apoiar o MNE europeu previsto na Constituição;
3- anunciar a entrada em campo antecipada do MNE europeu;
4- anunciar a decisão de pedir um lugar, com todos os atributos inerentes, de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU para a União Europeia. (o que implicaria a desistência de qualquer candidatura nacional; mas não, nesta fase, o afastamento dos membros da UE que já lá estão como P5, França e Reino Unido; nem o abandono de candidaturas nacionais a lugares não-permanentes).
Numa palavra, constituir uma Europa à medida de Ana Gomes. Ela só não explica se seria, ou não, anunciado, que essa Europa teria ainda um problemazito a resolver: estar cheia de europeus (?) que nada teriam a ver com o assunto. O que Ana Gomes quer é arrastar a Europa para a sua (de Ana Gomes) guerra à globalização, nos moldes de Oliveira Salazar: à revelia dos europeus e “rapidamente e em força”.

Viva o planeta dos gambozinos.

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