Mau começo.
"Vão-se embora, já saíram todos!"
O conflito sino-soviético motivou confrontos políticos e ideológicos tremendos entre comunistas e maoístas dentro do campo antifascista.
Um ódio intenso foi cavando uma rivalidade belicosa entre essas duas correntes políticas. Para os "marxistas-leninistas", os militantes do PCP eram "cunhalistas" ou "revisionistas". Aos olhos destes, os membros dos grupos "m-l" não passavam de "esquerdistas, provocadores".
No Forte de Peniche chegou mesmo a passar-se do insulto verbal a confrontos físicos no início dos anos setenta. Quando lá entrei, em Março de 1974, já os dois colectivos estavam separados em pisos incomunicáveis entre si. Chegada a hora da libertação, os presos do colectivo maoísta recusaram-se a ir saindo sem os camaradas que o general Spínola queria manter encarcerados por terem cometido delitos de sangue. Enquanto decorriam as negociações com advogados para resolver o impasse, os presos do PCP foram saindo ao longo da tarde e da noite de 26 de Abril.
Quando, finalmente, todos os presos maoístas passaram o portão exterior do Forte às três da manhã de dia 27, qual não foi o espanto quando ouvimos da boca das nossas famílias o que se passara horas antes. Ao completar a libertação dos seus presos, quadros do PCP disseram aos populares de Peniche, concentrados à saída da prisão, para irem para casa, pois lá dentro já não estava mais ninguém.
O sectarismo cego e obtuso tomou o freio nos dentes ao longo dos meses seguintes, mas veio logo ao de cima quando a liberdade dava os primeiros passos.
António Perez Metelo
14/06/2005
Já saíram todos
António Perez Metelo escreve no DN de 16 de Junho: