António Esteves Martins, jornalista da RTP, remata nestes termos, no Telejornal da RTP-2 de 5 de Dezembro, a ausência de acordo quanto ao orçamento da Comunidade Europeia:
“Uma proposta inteligente e chantagista do primeiro ministro que se bate em duas frentes: internamente, Tony Blair não pode dar de bandeja aquilo que Margaret Thatcher conquistou há 21 anos; a nível europeu, Tony Blair sabe melhor que ninguém que a ausência de um acordo abala o seu prestígio pessoal e diminui o poder de influência do Reino Unido.António Esteves Martins veste a roupa de El Kabong para castigar o Xerife de Nottingham, para defender o Robim dos Bosques.
Perante estas opções uma solução: retirar dinheiro aos mais pobres para fazer calar os ricos. Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, comparou Tony Blair ao Xerife de Nottingham recordando assim as peripécias de Robim dos Bosques.”
El Kabong supõe que é chantagismo defender uma conquista. El Kabong não põe em causa a conquista, mas põe em causa a sua defesa.
El Kabong, afirma que o prestígio do chantagista Tony Blair pode ser posto em causa. Não contente, afirma que o prestígio do Reino Unido também pode ser posto em causa. Não explica se esse prestígio terá sido alcançado no campo da chantagem.
Dando de barato que Tony Blair (e Reino Unido) tem prestígio (coisa espantosa para quem “mente” recorrentemente, é dado como “desacreditado” e “à beira do abismo por falta de apoio da população”, etc, - o blá blá do costume) , El Kabong não explica como supõe ter sido possível que um chantagista tenha conseguido almejar e alcançar prestígio para si e para o seu país, no seio da comunidade. Terá sido por ter “invadido” o Iraque?
Mas toda a pérfida trapaça é descodificada logo de imediato por El Kabong, que é capaz de perceber (coisa reservada a iluminados) qual a “solução” que Tony Blair tinha gizado para se salvar da desgraça: “Tirar aos pobres para dar aos ricos”.
El Kabong podia dizer que os ricos se estavam a cansar de sustentar os militantemente pobres – aqueles que, apesar de lhes despejarem dinheiro na cabeça insistem (como tem sido o caso de Portugal) em esbanjar o graveto caído da árvore das patacas. Podia ter dito que os ingleses estavam cansados de dar dinheiro para manter obsoletos estados de coisas. Mas isso poderia ser visto como um colocar dos “pobres” perante as suas responsabilidades e, por definição, pobres são irresponsáveis.
Para rematar, El Kabong “esqueceu-se” de fazer notar que era da cabeça dele próprio que saía a ideia da comparação de Tony Blair ao Xerife de Nottingham e não de Durão Barroso. Mas convinha dar alguma idoneidade à peça (coisa que, aparentemente, ressaltava à consciência de El Kabong) nomeando Durão Barroso voluntário e dando-lhe guia de marcha para o cartoon do “nosso” heroi.
À RTP há que chamar a atenção que, ou se esqueceu de anunciar desenhos animados, ou se esqueceu de anunciar uma aula de propaganda.
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No Desesperada Esperança, outro artigo sobre o mesmo "cartoon".
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